O capitão do mato e os índios. Por Fernando Brito

Atualizado em 5 de fevereiro de 2020 às 9:03
Bolsonaro e um índio que dizia que era seu eleitor. (Reprodução captura de tela)

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Estarrecedora a reportagem do Estadão sobre a proibição da Funai a que seus próprios funcionários visitem áreas indígenas ainda não demarcadas.

Pior ainda a justificativa de que métodos “marxistas” e “trotskistas” estariam sendo usados para a “retomada” de terras pelos índios.

Pior até do que fazia o ditador admirado por Bolsonaro, o General Emílio Médici, que, em 1973, sancionou lei dizendo que cabia à Funai assistir indígenas independente de que suas áreas de terra fossem homologadas ou não.

Lei, aliás, em pleno vigor.

Como em vigor a Constituição, esta esquecida, que fala, no artigo 231, que “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.

Falando em leis, é bom lembrar que a Funai está sob o comando do Ministério da Justiça. Portanto, a responsabilidade final é do sr. Sergio Moro, que deve responder por este tipo de atitude bizarra, a menos que os povos indígenas “não venham ao caso”.

Falta só o capitão (do mato, ao que parece) aparecer dizendo que é a favor dos índios tornarem-se “cada vez mais seres humanos”, mas que é preciso terminar com essa balbúrdia de que muitos deles “andem peladões, lá no mato, numa pouca vergonha total, talquei?”

Por sinal, já está nomeando um pastor evangélico para cuidar das tribos isoladas, quem sabe para lhes ensinar a vida sem pecado da sociedade moderna…