O Carnaval do Rio e a repressão: querem o lucro da folia, mas não sabem como garantir a paz e a segurança. Por André Lobão

Atualizado em 15 de janeiro de 2020 às 6:49
Crivela e Witzel: eles têm muito o que aprender

Os grandes blocos do Rio de Janeiro são consequência da indústria cultural que cria esse carnaval que não pertence mais à cultura popular. São empresas que o transformam em negócio no qual o público é secundário. Aí entra o Estado que apoia o “jabá” e distribui cacetadas ao povão que foi lá curtir a festa, e depois joga bombas e dá bordoadas para acabar com o festejo .

Mas aí vão dizer que a culpa é das pessoas que não sabem curtir uma festa e que são mal-educadas, mas esses não apontam de fato a responsabilidade de quem organiza o evento e deve dar a segurança mínima para quem está presente.

Ladrão tem até dentro do Rock in Rio, a policia vai lá e acaba com o festival aos sopapos e com bombas? Claro que não.

Na festa do campeonato da Libertadores, a torcida do Flamengo foi massacrada da mesma forma ao final da comemoração no centro do Rio de Janeiro.

Você acha que vivemos num país e cidade apaziguados e harmônicos? Entorpecem o povão com indústria cultural, querem vender mais cervejas, camisas e sensação de alegria, negando a realidade da maioria da população e depois para acabar com alguma festa é só “enxotar” distribuindo bombas de efeito moral.

O Rio de Janeiro é uma bomba-relógio prestes a explodir, não é o Rio de Janeiro da Susana Naspolini, do RJTV, da Globo, em que as pessoas fazem festa quando o alvo do flash ao vivo é um buraco na rua. O Rio de Janeiro é a cidade do trânsito ruim pra cacete, dos transportes públicos privatizados que mal funcionam como a Supervia, dos ônibus apodrecidos, do Subúrbio e Baixada abandonados, e das favelas que sofrem com o controle social do Estado na base do tiro.

Para ter paz numa cidade como esta, não adianta tirar o bode da sala, ou seja, acabar com os blocos. Para ter paz e sossego na cidade, não vai adiantar esconder as pessoas e o direito delas de irem e virem à Copacabana e Ipanema.

Enquanto não o Estado não se conscientizar de que não adianta resolver tudo na base do tiro, porrada e bomba, a situação só vai piorar. Imagine você a quantidade de “empreendedores”, como diz o Fantástico, vendendo suas mercadorias como cerveja, refrigerante e água em um bloco como o da Favorita em Copacabana em um calor insuportável de 50 graus. Estimulam o desemprego com reformas trabalhista e da Previdência, e não querem arcar com o custo disso?

Meu amigo, o buraco aqui é mais embaixo, e o carnaval vem aí!