Adriano, o helicóptero dos Perrellas e o fiasco do combate ao tráfico de drogas

Atualizado em 6 de novembro de 2014 às 20:52
Adriano
Adriano

 

O modo como a Justiça tratou o caso Adriano e o caso Helicoca é um símbolo retumbante do fiasco de um suposto combate às drogas no Brasil.

O Ministério Público pediu o indiciamento do velho Imperador por tráfico e associação ao tráfico. O promotor Alexandre Murilo Graça não requereu a prisão, mas solicitou que seu passaporte fosse recolhido para evitar fuga, já que se tratava de “pessoa com elevados recursos financeiros”.

O MP se baseou na compra de uma moto em 2007 para um tal de Mica, chefão da Vila Cruzeiro. Donde a suposta ligação de Adriano com o crime.

Ainda segundo a promotoria, Adriano “consentiu que outrem utilizasse de bem de que tinham propriedade e posse – no caso, duas motos Honda modelo CB600 – , para o tráfico ilícito de drogas”.

A juíza Maria Tereza Donatti acabou rejeitando a denúncia. Antes, a defesa já havia falado em “excesso acusatório”. A motocicleta teria sido roubada em 2010, quando o próprio atleta registrara um boletim de ocorrência. O recolhimento do passaporte seria um “pleito descabido”.

Adriano não é santo — muito pelo contrário —  e sua carreira está liquidada, apesar da prorrogração num time pequeno na França. Sempre teve amigos na favela e provavelmente alguns deles são bandidos. Nunca escondeu sua preferência pela balada e protagonizou barracos notórios. Ao contrário de seu colega Ronaldo, não virou, digamos, um cidadão respeitável.

Agora: traficante? A prova é uma moto?

Veja só o Helicoca.

No ano passado, a Polícia Federal apreendeu 445 quilos de pasta base de cocaína no Espírito Santo. Eu disse 445 quilos. Estavam no helicóptero da família Perrella, de Minas, envolvida em uma variedade de escândalos. O senador Zezé é aliado e chegado de Aécio Neves. Seu filho Gustavo não se reelegeu deputado estadual.

O envolvimento dos Perrellas foi descartado por um delegado solerte em três semanas. Mensagens entre o piloto e Gustavo foram suficientes para isso. Gustavo, que usava a aeronave com frequencia, não teria ideia de onde ela estava. Ok.

A PF limitou a apuração às quatro pessoas flagradas com a coca e ao proprietário do sítio usado para o pouso. Não se sabe a quem o entorpecente pertencia. Nunca saberemos.

Houve um pouso num hotel paulista onde ficaram 50 quilos. A polícia ignorou o fato. No dia em que os traficantes iam prestar depoimento, o juiz mandou soltá-los. Provavelmente, o caso será arquivado sem nenhuma punição.

Adriano reclamou dos “milhões de matérias falsas” e das polêmicas com seu nome. A sentença não é definitiva. O MP pode recorrer da decisão e pedir nova apreciação da Justiça para a denúncia. Somadas as duas acusações, Adriano pode pegar até 25 anos de prisão.

Zezé e Gustavo Perrella estão onde sempre estiveram. Os homens apanhados com a cocaína, ninguém sabe, ninguém viu. O helicóptero foi devolvido aos antigos donos. O pó está, a essa hora, fazendo girar um mercado milionário. Ou alguém acredita que foi incinerado?

Isso é tráfico. Indiciar um sujeito que já foi famoso por causa de uma moto que ele dividiria com um meliante pé de chinelo — que será, um dia, executado e terá seu sobrado com hidromassagem classificado como “mansão” na TV — é chamar você de palhaço.