O caso dos dois primos de Aécio campeões de caronas nos vôos oficiais. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 22 de novembro de 2015 às 20:03
Aécio e o primo Tancredo Tolentino, o Quedo
Aécio e o primo Tancredo Tolentino, o Quedo

 

Na planilha a que o DCM teve acesso com os vôos oficiais de Aécio Neves durante seu mandato em Minas Gerais, entre 2003 e 2010, chama a atenção a presença de dois parentes dele que pegaram carona nas quatro aeronaves — dois jatos, um Citation e um Learjet, um helicóptero Dauphin e um turboélice King Air.

Fernando Tolentino é o campeão de citações, aparecendo 16 vezes. Seis a mais, por exemplo, do que a primeira irmã Andrea Neves, braços direito e esquerdo de Aécio, responsável pela distribuição das verbas publicitárias, inclusive para as rádios do clã.

Tolentino esteve em Belo Horizonte em seis ocasiões, uma em Divinópolis, três em Uberaba, uma em Passos e quatro em Cláudio, onde fica o aeroporto construído nas terras de seu pai, Múcio, e cujas chaves ele ajudava a guardar.

Divida essa responsabilidade com o irmão Tancredo Tolentino, o Quedo, que andou no Citation para Uberaba e passeou no Dauphin em 2006 na companhia de Aécio e do mano.

Um decreto de 2005, assinado por Aécio, estabelece que as aeronaves servem para o “transporte do governador, vice-governador, secretários de Estado, ao presidente da Assembleia Legislativa e outras autoridades públicas” e “para desempenho de atividades próprias dos serviços públicos”.

Que serviço público foi prestado aqui?

Quedo é o que se poderia classificar de um rapaz da pá virada. Já cumpriu pena na cadeia de Cláudio por sonegação fiscal na década de 90. Locais afirmam que, no cárcere, ele recebia visitas na hora em que quisesse. Consta que um churrasco para amigos foi organizado.

“Comerciante” declarado, em 2012 foi denunciado na Operação Jus Postulandi, da PF, por participar de uma quadrilha que vendia habeas corpus para traficantes de drogas. Na época, ao dar essa notícia, o Estadão o qualificou como “primo distante” de Aécio Neves”.

De distante, não tem nada. Seu velho, o Múcio, é irmão da avó de Aécio, Risoleta Neves, mulher de Tancredo. Quedo administrou os alambiques da família, que produzem cachaças premiadas como Mathusalém, Mingote e Fazenda da Mata — batizada em homenagem ao que Aécio chama carinhosamente de “minha Versalhes”, as terras onde vai descansar, andar a cavalo etc.

Fernando é um tipo mais discreto e igualmente próximo de Aécio. Foi ele quem, em 2014, revelou que Aécio visita a fazenda “seis ou sete vezes por ano e vai sempre de avião”.

Em janeiro de 2007, então no início do seu segundo mandato, Aécio conseguiu aprovação na Assembleia Legislativa para criar cargos comissionados e nomeações (a lei delegada).

Assim, o diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG) usou a legislação para nomear Fernando Quinto Rocha Tolentino seu assessor (outros oito familiares foram contemplados, todos listados entre os passageiros das aeronaves).

Mesmo antes da nomeação, Tancredo já tinha feito onze voos. O que explica tantos passeios?

Uma coisa é certa: além do talento impressionante para misturar o público e o privado, cultivado durante décadas, ninguém jamais poderá acusar esse pessoal de não ser uma família unida.