O caso Moraes-Master é ofensiva contra o STF com a turma da Lava Jato e tem cheiro de 2013

Atualizado em 23 de dezembro de 2025 às 11:14
Lula e Moraes

A história ensina, mas não tem alunos, dizia Gramsci. Não estamos entrando em 2026, mas em 2013. Os personagens são os mesmos: Malu Gaspar, Merval Pereira, Fernando Gabeira, o grupo Globo, enfim. Atrás deles, o cordão do golpe na Folha, Estadão etc.

Merval confessou diversas vezes seu inconformismo com a “mudança de entendimento” do STF sobre a prisão de Lula. O porta-voz da Globo pediu na segunda (22) o impeachment de Alexandre de Moraes por causa de uma matéria da colega Malu a respeito de supostas conversas do ministro com Galípolo a respeito do Banco Master. O escritório da mulher de Moraes advoga para a empresa de Vorcaro.

Um dia depois, foi secundado por Joel Pinheiro da Fonseca, da Folha, também falando em impeachment (aquele que defende que pobres vendam seus órgãos para ganhar uns trocados).

No fim desse túnel está a libertação de Bolsonaro e, nos sonhos molhados da turma, a queda de Lula. Um quarto mandato para o Barba é demais. Precisamos de uma terceira via. Ainda que alimentemos o bolsonarismo.

O ministro Alexandre de Moraes, sem dúvida, precisa se explicar sobre a relação do escritório de sua mulher com o Banco Master. Essa promiscuidade, em si, é uma vergonha. Mas não é ilegal. Ele soltou uma nota dizendo que, “em virtude da aplicação da Lei Magnistiky, recebeu para reuniões o presidente do Banco Central, a presidente do Banco do Brasil, o Presidente e o vice-presidente Jurídico do Banco Itaú. Além disso, participou de reunião conjunta com os Presidentes da Confederação Nacional das Instituições Financeira, da Febraban, do BTG e os vice-presidentes do Santander e Itaú”.

“Em todas as reuniões, foram tratados exclusivamente assuntos específicos sobre as graves consequências da aplicação da referida lei, em especial a possibilidade de manutenção de movimentação bancária, contas correntes, cartões de crédito e débito”, continuou.

Que se apure. O que está em jogo, porém, não é o fato específico. O que realmente está acontecendo é uma ofensiva contra o STF. O mau cheiro engloba a histeria coletiva — inclusive de parte de “setores progressistas” — em torno de um “acordão” do Congresso, do Executivo e do Supremo para aprovar o PL da Dosimetria. Tudo, novamente, baseado em especulação, em fontes em off e na eventual criminalização da política.

“Acordão”, “mensalão”, “petrolão”… pronto. Receita de sucesso para se ressuscitar aquele udenismo maroto, aquela cantilena “contra a corrupção” que faz a festa de gente como o senador Alessandro Vieira e os órfãos da Lava Jato. A Lava Jato independe de Moro e Dallagnol, queimados, porque é um estado de espírito. Vieira, amigo de Moro que pediu a cabeça de Moraes em 2019, é o redentor.

Alessandro Vieira já avisou que está coletando assinaturas para uma CPI contra Moraes. Damares embarcou correndo. O trem não vai parar em Moraes, assim como o golpe não ficou no impedimento do Dilma.

A última estação é o Palácio do Planalto. Ça vas sans dire.

O conluio da República de Curitiba com a mídia quase destruiu um país. Em nome de limpar o Brasil, canalhas foram às ruas gritando que “o gigante acordou” (ah, essas palavras de ordens incrivelmente piegas e imbecis). Barroso, Fachin e Fux (in Fux we trust) eram os paladinos da moral. Não por acaso, Fachin é o homem que vai higienizar o Supremo com seu código de conduta, tema permanente dos colunistas preocupados com os rumos do país.

Os nomes se repetem, as cascatas também. No “18 Brumário”, de Marx, o golpista era Luís Bonaparte, sobrinho do Corso. “A história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa”, escreveu ele. Sim, eu sei que é manjado.

Esses fantasmas continuam entre nós, com sede de vingança. Ou acordamos agora ou perdemos um país. E, dessa vez, para sempre.   

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.