O catfight entre Pitty e Anita

Catfight

O patriarcado adora uma catfight – aposto que ao ler o termo “catfight” você já imaginou mulheres gatas de biquíni trocando tapas e unhadas na lama ou num ringue de gel. Fato é que nossa sociedade falocêntrica sempre tenta colocar as mulheres umas contra as outras. Hoje mesmo li uma manchete incitando uma treta – que não existe – entre a atriz Maisie Williams e Emma Watson, apenas pelo fato de a primeira discordar do ponto de vista da segunda. Isso me lembrou de que nas últimas semanas a internet foi bombardeada pelas mais diversas opiniões sobre o embate entre Pitty e Anitta no programa Altas Horas.

Sim, a Anitta fez todas as mulheres chorarem sangue quando defendeu um discurso machista e conservador sobre feminilidade e liberdade sexual. Mas bastou isso para, nas redes sociais, a funkeira ser massacrada. Todos se revoltarem contra ela a ponto de escrever mensagens de ódio, como: “ANITTA, ESSA MULHERZINHA BURRA TEM QUE SER PROIBIDA DE FALAR, VOLTA PRO FOGÃO”.

Calma, respira! Se você acredita que a Anitta errou feio e acha um absurdo mulheres reproduzirem o machismo em sua fala, não adianta ficar xingando-a e condenando-a. Porque isso é incentivar a rivalidade entre mulheres. É reforçar a ideia de que as mulheres são inimigas e eu tô cansada de ver a mídia alimentando esse revanchismo (MULHERES, AZINIMIGAS!).

Somos colocadas umas contra as outras como vilãs e potenciais rivais. Desde pequenas os contos de fadas nos ensinam que a competição está na outra fêmea. Lembra-se das irmãs invejosas e da madrasta má da Cinderella, ou da bruxa recalcada de Branca de Neve? Nossa sociedade cria mulheres para odiar outras mulheres. Aí, no final das contas, acabamos odiando a nós mesmas.

O resultado é esse: o sexismo é tão enraizado que muita gente acaba repetindo discursos machistas sem nem perceber. Tipo culpar TPM por qualquer mau humor e usar a expressão “histeria” e “mal comida”. Não adianta crucificar quem repete esse discurso machista sem nem perceber. A nossa briga não conta outras mulheres, e sim contra todo o sistema heteronormativo.

Nós não precisamos por mais lenha na fogueira de vaidade e rivalidade entre mulheres e sim conversamos umas com as outras (assim como a Pitty fez com a Anitta) e tentarmos desconstruir tudo aquilo que nos foi ensinado. Nós precisamos começar a enxergar a outra mulher como uma irmã que precisa de ajuda, não como inimiga. Mulheres são amigas. Isso deve ficar claro, porque enquanto essa união não acontecer, não tem feminismo que mude o mundo.

Nós precisamos umas das outras. Nós precisamos julgar menos e acolher mais. Nós precisamos praticar a sororidade, a irmandade entre mulheres! A sororidade é a consciência de que vivemos em uma sociedade sexista e o esforço pessoal e coletivo para destruir essa mentalidade e cultura misógina.

Vamos selar esse pacto de fraternidade, nos reconhecer como irmãs e nos tornar aliadas! Vamos partilhar e tentar mudar a realidade ao nosso redor, vamos provocar revoluções internas, nos libertando das diferentes opressões a que somos sujeitas. Com esse apoio mútuo, com certeza, fica mais fácil de alcançar o empoderamento de cada mulher. Vamos nos amar, vamos amar nossas irmãs para assim aprendermos a amar nós mesmas! Vamos fazer com que casos como o da mãe e madrasta que se dão tão bem, a ponto de declarar se amarem, seja o usual e não algo tão incomum a ponto de merecer uma matéria.

O patriarcado nos coloca como rivais porque sabe o poder que temos quando nos damos conta da opressão que sofremos e nos unimos. Porque quando nos unimos para mudar essa realidade e lutamos contra os machistinhas, que não passarão, o fazemos com tamanha resiliência que só quem sabe que está correto consegue ter.

Laís Montagnana

Laís Montagnana, nem puta, nem santa. Amante de bons drinks, bons discos, noites quentes e mesas de bar na calçada. Escritora, feminista e encontrável em www.deliriosemcomprimidos.com e @lmontag

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