
As religiões de matriz africana estão atoladas de gente branca. Segundo o último censo (2022), brancos são 42,7% dos praticantes de religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda, por exemplo. A esquerda haribo não cansa de surpreender.
Mas quando mesmo a “macumba”, sempre demonizada pelos brancos, virou moda entre eles?
Quando o movimento antirracista passou a chancelar esse tipo de apropriação em troca da famigerada representatividade. Colocar a negritude “no hype” custou caro, custou a apropriação cultural das religiões, e também das favelas e periferias. A mesma lógica se aplica às duas situações: uma lógica colonizadora.
Em outras palavras, ninguém está proibido de professar sua fé como bem entender, desde que haja respeito, aprendizado e reconhecimento do protagonismo negro.
Na minha triste Bahia, por exemplo – reduto de povos afro-brasileiros – já quiseram chamar acarajé, uma iguaria africana, de “bolinho de jesus” (não colou, graças à minha mãe Oxum). Não suporto mais ouvir a palavra “branquitude”.
O problema não é aderir ao candomblé, o problema é o apagamento cultural daqueles que desejam “embranquecer” essas religiões (prova disso é a tal “umbanda branca”, que pressupõe que a “umbanda preta” é coisa do diabo).
Então, de branca para brancos: o que vocês fizeram hoje para apoiarem as lutas antirracistas e dos povos indígenas, que vêm sofrendo verdadeiro genocídio sob os olhos do Estado que nunca sequer os reconheceu como gente?
E não nos enganemos: não é porque os brancos invadiram os terreiros que eles deixarão de ser atacados pelos próprios brancos.
Exu seguirá, diante de um racismo estrutural e intolerância religiosa, sendo visto como um demônio, só que agora rendendo dinheiro a quem não deveria.
Isso é exploração e escárnio com aqueles que defendem sua cultura com o proprio sangue em uma sociedade ainda inegavelmente escravocrata.
Enquanto se vestem de branco e gritam “Epa Babá!” sem saberem o que significa, eles aderem a religiões de matriz africana sem nenhuma responsabilidade ou comprometimento – apenas surfando no hype.
(Em oito anos de ayahuasca, eu presenciei isso mais vezes do que gostaria).
Assim diria Exu: vocês querem minha força, mas não querem minha história. Querem acender vela pra mim, mas não respeitam o povo que me carrega no sangue.
Exu ensina que caminho aberto só se anda com verdade.