O chefe de milícia e o vendedor ambulante. Por Gilberto Maringoni

Atualizado em 22 de outubro de 2018 às 11:55
Fernando Haddad, do PT, e Jair Bolsonaro, do PSL. (Fotos: Nelson Almeida/AFP)

O discurso de Jair Bolsonaro na tarde deste domingo – proferido em sua casa no Rio e transmitido via celular a uma manifestação na Paulista – é muito pior que a intervenção de um de seus filhos defendendo o fechamento do STF.

O capitão não falou em ambiente fechado e nem é figura lateral na onda fascista brasileira. Trata-se de um candidato á frente das pesquisas e que já age como eleito. Não discursou como dirigente politico. Mandou recado como chefe de milícia.

Bolsonaro afirma, quase soletrando, que a esquerda irá para o cárcere ou para o exílio. Ameaça Fernando Haddad com anos de prisão, sem que haja julgamento de coisa alguma a definir tal sentença. Rosna contra Lula, que “apodrecerá na cadeia”. Garante que MST e MTST serão classificados como terroristas – provavelmente com base na lei formulada pelo governo Dilma Rousseff, suprema ironia – e que “a paz voltará para quem produz”. Há outras ameaças em seu fraseado chulo e rastaquera.

Nenhuma palavra sobre crise econômica, planos de governo, resolução de algum problema real. O que há é papo de meganha na porta do camburão, para gáudio de sua matilha de hienas.

A sucessão de impropérios foi proferida quase ao mesmo tempo da rendição do TSE, anunciada pela ministra Rosa Weber, em Brasília. Como escolta, a douta autoridade se fez acompanhar por outros condestáveis da República, tendo como figuras de proa o sinistro Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e o decorativo Ministro da Segurança. A essa altura, não se sabe se eram rendidos ou cúmplices.

O candidato do fascismo jogou querosene em brasa acesa. Dissemina a ideia de que a barbárie está liberada.

Não assisti nenhuma das manifestações ao vivo. Na tarde de domingo, eu, suando em bicas, me ocupava de terminar um circuito de corrida num parque em Brasília, depois de uma chuva providencial. Na saída, encontro um vendedor de água de coco, com vários adesivos de Fernando Haddad em seu carrinho.

Eu o cumprimento pela coragem de exibir suas preferências em dias tão agressivos. Trocamos cinco minutos de conversa. Ele me conta da campanha em seu bairro e da confiança de que vamos virar essa eleição. Pergunto se é petista. Sua resposta é direita:

– Sou comunista, meu camarada. Quero muito mais que derrotar Bolsonaro. Mas estamos aí, num dos poucos momentos em que a esquerda está toda unida. Isso é o que importa. Estamos em campanha!

A frase serena me impactou. É isso aí. Vamos virar. E queremos mais.

O chefe de milícia não pode levar essa.

Estamos em campanha!