O chilique de Alexandre de Moraes mostra que o Ministério da Justiça é, sim, muita areia para ele. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 12 de janeiro de 2017 às 22:04
Uma das cabeças mais brilhantes de sua geração
Uma das cabeças mais brilhantes de sua geração

 

Não se passa um único dia sem que a equipe ministerial do governo Temer reafirme a astronômica distância que separa as suas práticas dos mais básicos valores de um país que se quer democrático.

Sem qualquer vocação para o debate com os mais diferentes setores da sociedade, a grande especialidade de um governo que surgiu da mentira e da intolerância não poderia ser outro a não ser a imposição.

Alexandre de Moraes, o ministro da justiça mais descompromissado com os direitos constitucionais e garantias individuais já visto desde a redemocratização brasileira, mais uma vez demonstrou a sua brilhante capacidade em lidar com o contraditório.

Inconformado com a enxurrada de críticas que vem sofrendo de todos os lados em função da sua completa incompetência para arcar com os imensos desafios e responsabilidades que o cargo impõe, resolveu agora revidar aos seus críticos com a mesma  brutalidade com que tratava manifestantes quando era secretário de segurança de São Paulo.

Primeiro interpretou como mero “oportunismo político” o manifesto elaborado pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, da faculdade de Direito da USP, que pede a sua imediata renúncia por considerar a sua atuação à frente da pasta como “omissa e inábil”.

Assinada por juristas, acadêmicos, ex-ministros da justiça, deputados, senadores, professores de direito, juízes, defensores públicos e entidades de classe, a carta aberta ainda repudia as “recorrentes declarações populistas e irresponsáveis relacionadas às pautas de política criminal”.

Arisco a receber as mais óbvias críticas, o cidadão simplesmente perdeu as estribeiras ao tomar conhecimento da entrevista que seu antecessor no cargo, Eugênio Aragão, deu ao site do PT. Entre outras críticas, Aragão afirmou que o ministério da Justiça é “areia demais para a caçambinha dele”.

Transtornado, o atual ministro não mediu palavras e declarou que Aragão será processado “para aprender a ficar de boca calada”. Sim, no universo Temer as liberdades de expressão e opinião foram sumariamente banidas e tudo que se é permitido é a mais canina subserviência.

Nesse quesito em particular, cabe lembrarmos de um trecho do discurso de posse da presidenta Dilma Roussef pronunciado em 01 de janeiro de 2011, quando do seu primeiro mandato. Disse ela:

“Reafirmo meu compromisso inegociável com a garantia plena das liberdades individuais; da liberdade de culto e de religião; da liberdade de imprensa e de opinião.

Reafirmo o que disse ao longo da campanha, que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. Quem, como eu e tantos outros da minha geração lutamos contra o arbítrio, a censura e a ditadura, somos naturalmente amantes da mais plena democracia e da defesa intransigente dos direitos humanos, no nosso país e como bandeira sagrada de todos os povos.”

É o exato oposto do que representa Alexandre de Moraes. A sua conduta é tão adversa aos princípios do cargo que ocupa que não seria exagero afirmar que Alexandre de Moraes está para o ministério da Justiça assim como Hitler estaria para um ministério da Igualdade Racial.

Não importa o quanto essa criança mimada esperneie, a grande verdade é que sim, o ministério da Justiça é muita areia para a sua caçambinha.