O ‘cinematográfico’ triplex de Lula é menor que a sala de Roberto Civita. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 23 de janeiro de 2016 às 16:47
As acusações são recicladas: o prédio em que Lula comprou uma conta de um apartamento
As acusações são recicladas: o prédio em que Lula comprou uma conta de um apartamento

Vem cá.

Do que os caras não acusam Lula?

Virtualmente todos os dias os jornais publicam, espalhafatosamente, denúncias contra ele.

Contra ele e tudo que o cerca: família, amigos etc. Daqui a pouco vão incluir o cachorro de Lula nas acusações.

Alguns casos são como assombrações: aparecem, desaparecem por falta de sustentação e mais tarde ressurgem.

É o que acontece agora com o já famoso triplex do Guarujá. Quem publicou essa história primeiro foi o Globo. Segundo o jornal, Lula seria dono desse triplex.

A maldade já se iniciava com a palavra tríplex. Você é induzido a achar que se trata de um apartamento cinematográfico, tal como o de um Civita ou de um Marinho.

Mas a metragem é inferior a 300 metros quadrados, o que pode ser frustrante para quem tem em mente um tríplex hollywoodiano.

Ou mesmo para quem, como eu, tenha conhecido as salas de Roberto Civita e de Roberto Marinho, ambas com muito mais de 300 m2.

A primeira vez que fui à sala de RC atravessei uma barreira de secretárias (quatro) e seguranças (quatro).

Quando vi uma sala, fui entrando. Era um pouco maior do que a minha de diretor de redação da Exame.

Fui entrando, automaticamente. A secretária me avisou que aquela era a sala dela. A de RC era um duplex – este sim – de cinema.

A sala de Roberto Marinho parecia um campo de futebol, com vista para o Corcovado. Não me pergunte o que ele fazia com tanto espaço. Como cavalo era uma de suas paixões, ele poderia equitar ali, se quisesse.

Com sua morte, os três filhos ocuparam, com extremo conforto e incomparável beleza, a sala do pai.

As primeiras acusações sobre o alegado tríplex diziam que a construção dos apartamentos atrasara e Lula recebera sua unidade antes dos outros.

As fontes do Globo eram anônimos vizinhos e um funcionário também não citado. (Contra Lula transeuntes são fontes. Contra Aécio sequer um delator é levado em conta, mesmo que ele não consiga redução de pena nenhuma se falar uma mentira.)

Lula respondeu que tinha comprado uma cota, como um plebeu que adquire algo em prestações. Não que precisasse: com o dinheiro que ganhava para falar, bastariam três ou quatro palestras para quitar o negócio.

Lula disse também que havia uma cláusula de compra que ele não exercera.

Não negou, portanto, ser proprietário de uma cota do triplex.

Isso não impediu que, agora, ele seja acusado de ocultação de patrimônio. Um patrimônio publicamente declarado foi definido como oculto, o que mostra o vale tudo contra Lula.

Patrimônio oculto, você talvez pudesse dizer, foi o que a Abril fez ao vender 30% da editora aos sul-africanos da Naspers.

Nem a Caras e nem a Superinteressante entraram no negócio. Foi graças a elas que os Civitas puderam, em anos duros sob as vistas rígidas dos novos sócios, continuar a manter suas retiradas faustosas.

Eles sabiam?

Como diria a Veja, talvez sim, talvez não. Não podemos confirmar e nem desmentir.

É esta a lógica que vigora contra Lula.

Denúncias contra Lula são invariavelmente publicadas – mesmo que não possam ser confirmadas.

Desde Getúlio Vargas com o infame Mar de Lama inventado por Carlos Corvo Lacerda, nenhum político brasileiro era tão perseguido.

Enquanto isso, Eduardo Cunha – para ficar num só caso – teve as mãos livres durante quase 30 anos de carreira para promover seu gangsterismo político que transformou o Congresso numa casa de comércio indecente.

A imprensa jamais o importunou porque ele defendia os interesses dos barões, como a terceirização e a supressão de qualquer debate sobre a regulamentação da mídia.

Isso conta muito, ou tudo, sobre ela, a imprensa.