“O Congresso brasileiro devia ser dissolvido”: a atualidade de uma entrevista de 2013 de um sociólogo espanhol. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 2 de maio de 2016 às 21:48
Pois é
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Em julho de 2013, o sociólogo espanhol Manuel Castells, 71, deu uma entrevista à Folha que está mais atual do que nunca.

“O Brasil chegou a um ponto não sustentável na deterioração ecológica e urbana, assim como os níveis de corrupção e arrogância da classe política”, disse ele, repercutindo as manifestações daquele ano.

Castells é um dos mais reconhecidos estudiosos de movimentos em rede e de seus efeitos na política. Ele cantou a pedra:

“A presidenta Dilma Rousseff reagiu como democrata [aos protestos]. Escutou as ruas e tratou de atuar imediatamente, investindo no transporte, na educação e na saúde e propondo uma reforma política por plebiscito para superar o bloqueio da classe política brasileira que em sua maior parte é corrupta, não só pelo dinheiro, mas também pelo poder, porque acreditam que o poder é dela e não dos cidadãos.

O grande problema do Brasil não é econômico, mas político. Os partidos políticos brasileiros representam a si mesmos e se fecham a qualquer reforma real que limite seus privilégios. Esse é o ponto chave. Se não for alterado o sistema político, a esperança de mudança hoje representada pelo movimento se converterá em raiva coletiva e cinismo individual.

O Congresso atual não pode se autorreformar. Deveria ser dissolvido para que se inicie um processo constituinte de reforma da democracia. O Brasil poderia ser um exemplo para o mundo. A presidenta, líderes como Marina Silva e talvez o presidente Lula e o presidente [Fernando Henrique] Cardoso poderiam liderar a mudança com sua autoridade moral. Mas muitos políticos profissionais deveriam se aposentar e montar empresas para criar empregos com o dinheiro que ganharam na política”.

 

Poucos dias após vencer as eleições em 2014, Dilma anunciou como uma de suas prioridades uma reforma política por meio de um plebiscito.

O PMDB reagiu prontamente: executou a ideia em pleno vôo. A reforma, insistiam os caciques, seria tarefa deles próprios.

Cunha, na ocasião líder do partido na Câmara, jogou a pá de cal: “A presidente quer substituir o Congresso e propor o plebiscito. Mas é bom lembrar que o Congresso foi eleito agora e é tão legítimo para legislar quanto ela é para governar”.