O ‘criptofiasco’ de Milei: presidente da Argentina é denunciado e pode sofrer impeachment; entenda

Atualizado em 16 de fevereiro de 2025 às 22:39
Javier Milei, presidente de extrema-direita da Argentina. Foto: reprodução

Quatro dirigentes políticos apresentaram neste domingo a primeira denúncia criminal contra o presidente argentino, Javier Milei, acusando-o de “associação criminosa”, “fraude” e “descumprimento dos deveres de funcionário público” após a promoção da criptomoeda $LIBRA, suspeita de envolvimento em um esquema fraudulento. Segundo o documento judicial, divulgado pelos denunciantes nas redes sociais, Milei teria participado de uma “mega fraude” que afetou mais de 40 mil pessoas, resultando em perdas superiores a 4 bilhões de dólares.

A denúncia aponta Milei como “participante essencial e fundamental em uma associação cujo objetivo era realizar uma fraude histórica por meio de criptomoedas”. Entre os envolvidos, além do presidente, estão dois militantes próximos ao seu círculo, o presidente da Câmara dos Deputados, Martín Ménem, Julián Peh, CEO da Kip Protocol (empresa responsável pelo desenvolvimento da $LIBRA), e Hayden Mark Davis, representante da Kelsier Ventures (responsável pela infraestrutura tecnológica da criptomoeda). Outros possíveis envolvidos poderão ser identificados ao longo da investigação.

“Uma organização criada para cometer milhares de fraudes simultaneamente. Essa megafraude contou com a participação tanto dos criadores do projeto $LIBRA quanto daqueles que a promoveram, conferindo-lhe credibilidade e respaldo”, afirma a denúncia, assinada pelos advogados Jonatan Baldiviezo e Marcos Zelaya, o economista Claudio Lozano e a engenheira civil María Eva Koutsovitis.

‘Criptogate’ na Argentina: impeachment de Milei

Paralelamente, a União pela Pátria (UxP), principal bloco oposicionista argentino, anunciou que pedirá a abertura de um processo de impeachment contra Milei por sua promoção da $LIBRA nas redes sociais. “A participação de Javier Milei em um esquema de fraude cripto é gravíssima. Trata-se de um escândalo sem precedentes”, declarou a UxP.

A ex-presidente e líder da UxP, Cristina Kirchner, acusou Milei de ser “o chamariz de uma fraude digital”.  “Milhares confiaram em você, compraram caro e, em questão de horas, perderam milhões, enquanto alguns poucos (e aposto que todos libertários) lucraram com informação privilegiada”, disse Cristina. “Veja onde sua loucura nos levou! Você transformou a Argentina em um cassino onde o crupiê é o próprio Presidente.” Ela também atacou Milei por chamar opositores de “incompetentes” e “malandros”, argumentando que “o verdadeiro incompetente para ocupar esse cargo é ele”.

Além disso, a Frente de Esquerda (FIT) apresentou uma resolução exigindo a presença imediata de Milei na Câmara dos Deputados para esclarecer a “escandalosa promoção de uma fraude milionária em suas redes sociais na sexta-feira passada”.

O presidente da Coalizão Cívica, Maximiliano Ferraro, sugeriu que Milei pode ter cometido crimes previstos nas leis de Ética Pública e de Entidades Financeiras. “O ocorrido pode configurar lavagem de dinheiro, fraude e/ou estelionato, que a Unidade de Informação Financeira (UIF) não pode ignorar”, publicou Ferraro na rede social X.

Hayden Mark Davis, um dos criadores da Libra, diz que é “conselheiro” de Milei

Por outro lado, o governo Milei reagiu de forma discreta às acusações. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, defendeu o presidente, alegando que ele é alvo de uma conspiração. “O que aconteceu foi uma bomba atômica para tentar derrubar o presidente de uma vez só”, afirmou. “Levar o presidente a um impeachment por isso é um exagero. Ele tem o direito de apoiar empreendimentos”, argumentou. “A empresa da criptomoeda promovida por Milei trabalhou com a Cidade de Buenos Aires. Não surgiu do nada”, justificou.

O ‘criptofiasco’ de Milei: ascensão e queda da $LIBRA

Especialistas alertam que a criptomoeda $LIBRA pertence ao grupo de ativos digitais criados para gerar lucros para seus desenvolvedores ao explorar a imagem de figuras públicas e a credulidade de seus seguidores. Sem regulamentação, esse tipo de oferta se assemelha mais a um esquema Ponzi (pirâmide financeira) do que a um ativo financeiro legítimo.

As chamadas “memecoins” ou “moedas lixo” não possuem respaldo econômico real e apenas buscam capitalizar o entusiasmo do público. No caso de Milei, ele promoveu a $LIBRA como um “empreendimento privado”, mas, diante das suspeitas de fraude, apagou a publicação e negou qualquer envolvimento com o projeto.

Enquanto a mensagem permaneceu online, a demanda pela criptomoeda disparou, inflacionando seu valor e movimentando milhões de dólares antes de colapsar. Um relatório da empresa americana Kobbeissi Letter revelou que, após o pico de valorização, os investidores iniciais retiraram cerca de 87,4 milhões de dólares, e em apenas cinco horas, mais de 4,4 bilhões de dólares foram perdidos em capitalização de mercado.

Diante do escândalo, a Câmara Argentina de Fintech emitiu um comunicado defendendo o uso de plataformas regulamentadas e colaborando com as autoridades para desenvolver políticas de proteção aos usuários. “Nosso compromisso é que as criptomoedas sejam uma ferramenta de progresso e crescimento sustentável para o país”, declarou a entidade.