O cristofascismo golpista. Por Simony dos Anjos

Atualizado em 14 de novembro de 2019 às 17:32
Jeanine Añaez e sua Bíblia tamanho família a caminho do palácio do governo

Publicado originalmente no Justificando

Por Simony dos Anjos

Temos vivido tempos terrivelmente fundamentalistas, nos últimos meses são incontáveis as interferências de lideranças religiosas no cenário político brasileiro. A última ocasião na qual evidenciou-se o uso político dos fiéis realizado por muitas igrejas, aconteceu no processo de eleição dos conselhos tutelares, haja vista o frete de ônibus para levar os fiéis para os colégios eleitorais, a propaganda e apoio das igrejas a conselheiros que representariam “a vontade de Deus” nos Conselhos Tutelares.

Essas igrejas estão disputando as mentes e corações das pessoas mais pobres, marginalizadas na sociedade e sem acesso aos direitos. Ao se colocarem como as salvadoras dos males da sociedade e em defesa da família, apelando diretamente para o senso de autoproteção das pessoas, essas igrejas conquistam apoio político de uma massa que se vê acolhida pelas religiões populares, como o catolicismo e o neopentecostalismo.

E essa não é uma realidade brasileira, apenas. Esse é um cenário da América Latina, de modo geral. E temos que entender que essa entrada das religiões cristãs no poder e na formação do imaginário social latino-americano, se deve ao fato de o Catolicismo ter sido esteio do processo de colonização de todos esses países. O Imaginário cristão que dá sustentação para os evangélicos fundamentalistas, hoje, vem sendo forjado há 500 anos em nossas terras, e isso se reflete no alto número de políticos que ostentam a bandeira da religião. A Guatemala, por exemplo, é governada por um pastor evangélico, o Jimmy Morales. A Costa rica é governada por um cantor e pastor evangélico chamado Fabrício Alvarado. Na Colômbia, até 2017, haviam 750 colégios públicos e 3500 igrejas neopentecostais.

E esse avanço dos políticos religiosos, é potencializado pelo poder dos inúmeros meios de comunicação religiosos que constroem heróis baseados na fé e moralidade cristãos. Há de se convir, que se tratam de países com pessoas extremamente empobrecidas que têm uma dependência social da igreja e do seu assistencialismo. Uma prática que se converte em um dos maiores trunfos do capitalismo exploratório que acomete a América Latina, ensinar as pessoas a dependerem da caridade. Postura que forma cidadãos que  não exigem seus direitos do Estado, dando todo poder para que as religiões mais populares mantenham a estabilidade social de uma sociedade extremamente desigual. Nesse contexto, o colapso que a Bolívia enfrenta está diretamente ligado a alguns grupos fundamentalistas católicos e evangélicos, que mobilizaram as pessoas com a disseminação de pânico entre os fiéis.

Dentre as notícias e imagens que têm circulado na mídia, eu gostaria de evidenciar duas imagens que são muito efetivas para conquistar corações e mentes de um povo extremamente cristianizado:  Luis Fernando Camacho ajoelhado em frente a uma bíblia e a presidente interina Jeanine Añez com a faixa presidencial e uma pequena bíblia na mão.  Antes disso, se faz necessário pontuar que esse golpe vem sendo preparado desde a forte resistência de alguns grupos católicos e evangélicos ao novo Código Penal Boliviano sob a pecha de que o Código Penal criminalizaria a evangelização no país, quando na verdade a lei estabelecia que “a condenação de 7 a 12 anos aconteceria no caso de tráfico de pessoas realizado dentro do contexto de grupos religiosos”.