O culto à celebridade é fatal para o jornalismo

Atualizado em 14 de junho de 2013 às 12:19

 

Os tablóides ingleses

Alguns dos maiores editores na história da mídia enxergavam nos jornais um papel inspirador. Os jornais elevariam as pessoas, as educariam, lhes mostrariam os melhores caminhos a seguir. Com isso, uma sociedade melhor derivaria das páginas escritas pelos jornalistas.

Não apenas editores tinham essa visão. Numa viagem aos Estados Unidos,  em meados do século 19, Dickens ficou desapontado com o que viu, e registrou isso num livro chamado “Anotações Americanas”. Os americanos costumavam cuspir no chão, para desagrado de Dickens. Ele também se queixou das restrições  à liberdade de expressão.  Ele não podia falar nem de direitos autorais internacionais – seus livros eram publicados nos Estados Unidos sem que lhe pagassem nada – e muito menos de escravidão.  A situação dos Estados Unidos, escreveu Dickens, só mudaria se os jornais americanos puxassem para cima o público.

O maior editor da Inglaterra da era vitoriana, William T. Stead, acreditava que os editores eram muito melhores que qualquer governo para iiluminar um país. Os editores tinham como missão, segundo Stead, evitar que os políticos cometessem besteiras, ou corrigi-las.

Onde foi que tudo isso se perdeu?

A Inglaterra assiste, horrorizada, à investigação sobre os métodos utilizados pelo falecido tablóide News of the World para buscar furos. Basicamente, o jornal invadia criminosamente as caixas postais de milhares de pessoas – sobretudo celebridades.

Aí está  a resposta para a pergunta que fiz acima.

Quando a imprensa começou a ficar obcecada pelas celebridades, aí ela se perdeu.  O que se viu foi o oposto do que pregava Stead. Em vez de educar as pessoas, os jornais passaram a deseducá-las. Um espaço absurdo começou a ser dado a fofocas. E depois surgiu uma indústria de mídia totalmente dedicada às fofocas.

Há dois caminhos para a mídia. Um é o de Stead: educar o público, combater as mazelas da sociedade. Foi o jornal de Stead, o Pall Mall Gazette, que trouxe à luz na Inglaterra de pouco mais de um século atrás o drama da prostituição infantil. A legislação inglesa mudou com isso.

O segundo caminho é o dos tablóides ingleses e de uma forma geral de todas as publicações dedicadas às celebridades: deseducar a sociedade com um conteúdo que apenas alimenta a ignorância.

O caso News of the World mostra que na Inglaterra a alternativa dois triunfou. Mudar de caminho exige um esforço de proporções épicas, e de resultados incertos.

O drama da mídia inglesa é um alerta para todos nós, jornalistas. É hora de olhar para o espelho e ver quanto cedemos também à ruinosa e desprezível obsessão por fofocas sobre celebridades.