O culto às armas do bolsonarismo vai multiplicar massacres como o de Suzano. Por Donato

Atualizado em 13 de março de 2019 às 12:42
Escola Estadual Raul Brasil, no Jardim Imperador, em Suzano, na Grande São Paulo

Em pouco mais de dois meses o governo estimulador de franco atiradores já colhe sua primeira tragédia.

Ao melhor (ou pior) estilo americano, dois adolescentes entraram na escola Professor Raul Brasil, em Suzano. O número total de mortes ainda não está confirmado, mas elas passam de nove. A escola atende aos ensinos fundamental e médio.

Os dois atiradores suicidaram-se em seguida.

Mais armas nas mãos da população não tem como dar em algo diferente. Desde que a extrema direita, que hoje está no poder, já vinha falando em rever o estatuto do desarmamento, escrevi (lá em 2015) neste DCM:

“Estão brincando com fogo e empurrando-nos para uma sociedade tão doente quanto a do tio Sam. Facilitar o acesso às armas é criar um oceano de tragédias. Um levantamento feito nos casos investigados pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) aponta que 83% dos assassinatos esclarecidos foram cometidos por motivos fúteis como brigas de trânsito, discussões de casal, rivalidades entre torcedores fanáticos. Quando se tem uma arma à mão, este é o resultado”.

Esse tipo de evento está deixando de ser raro no país. E morbidamente motiva imitadores.

Há alguns anos, em Realengo (RJ), um ex-aluno que dizia sofrer bullying entrou na escola e disparou mais de 100 tiros. Matou 12 crianças.

Tempos depois, em Goiás, um adolescente de 14 anos dirigiu-se até o Colégio Goyases, matou dois colegas e feriu outros tantos.

Ele disse ter se inspirado no atirador de Realengo (além de Columbine, claro). O autor dos disparos usava uma pistola calibre 40 que era da mãe, uma policial militar.

Em 2013, o menino Marcelo Pesseghini, de apenas 13 anos, pegou uma arma, foi até a escola e depois matou seus pais.

Um laudo psiquiátrico polêmico feito após a morte do garoto relatou uma doença mental (encelopatia hipóxica) e também um suposto vício pelo game Assassin’s Creed como causas determinantes.

Seja como for, sem uma arma em mãos o garoto não teria feito o que fez.

Os casos de tiroteios em escolas obedecem a alguns padrões que estudos comprovam. Meninos, menores de idade, busca pela fama, frustração. E armas, obviamente.

O acesso a elas não traz nada de positivo a ninguém, em lugar nenhum.

Se Bolsonaro e seus seguidores não conseguem compreender isso, que esse massacre de hoje sirva para abrir-lhes os olhos.