O Colégio Mater Dei, em São Paulo, foi a primeira escola no mundo a receber uma sala de aula organizada com aplicativos do Google em maio de 2014. Em um país com problemas na educação básica e no ensino médio, a iniciativa mostra que o uso de tecnologia em tablets, smartphones, computadores e televisões é o futuro das salas de aula e uma oportunidade para diminuir as deficiências escolares.
A sala de aula do Google não possui carteiras ou mesmo cadeiras, mas pufes e travesseiros para os alunos sentarem ou deitarem. Os professores não ficam em mesas na parte da frente, e sim em pequenos bancos levemente mais altos, na lateral. A disposição da sala é quase um círculo, para não separar mestres e seus alunos. As paredes, em sua maioria, são de vidro transparente, permitindo que os jovens visualizem a escola toda dentro da sala de aula, mas sem o barulho externo.
O próprio Google quer copiar o modelo da escola brasileira e replicar em outras instituições ao redor do mundo, utilizando efetivamente a tecnologia na educação. É diferente das antigas aulas em laboratórios de informática, que não se misturavam com aulas de português, ciências ou matemática.
Conversei com Erica Montovani (48), coordenadora do Ensino Fundamental 1 do Mater Dei. Ela explicou como funcionam as aulas de português para crianças entre 7 e 10 anos. Os alunos aprendem gêneros literários diferentes a cada ano. “No caso do terceiro ano, eles estão estudando os contos de fada. A novidade neste ano é o uso da tecnologia, para a melhor escrita das crianças e a prática de leitura. Esse tipo de inovação está em nossa metodologia pedagógica. Tivemos um avanço mais rápido neste tipo de atividade graças ao uso de tablets na sala do Google”, disse Montovani.
Acompanhamos uma aula sobre o conto da Chapeuzinho Vermelho com alunos do ensino fundamental. Ministrada através de um aplicativo no Google TV, a professora monitorava e contava a história em voz alta executando comandos de seu iPad. Num segundo momento, a mesma história se transformou em um game, jogado coletivamente pelas crianças.
“Implantamos a sala do Google em maio. Um resultado de leitura que conseguimos só em meados de novembro foi atingido já em julho”, contou Erica Montovani. Para a educadora, o conteúdo apenas em livro era encarado como monótono pelas crianças.
Na hora do recreio, a turma do ensino fundamental encontra o pessoal do colegial dentro da sala do Google e, mesmo com idades diferentes, eles interagem. Isso acontece principalmente com filmes infantis. “Os mais novos recebem tablets e equipamentos da escola para as aulas, mas, aos poucos, incentivamos que eles tragam aparelhos de casa. Todo aplicativo que se torna referência nas aulas é recomendado para que o aluno baixe fora da escola. Desta forma, a gente incentiva eles a conhecerem outros apps além do jogo Minecraft. Entre os aplicativos, o de tabuada fez sucesso para que eles aprendessem matemática mais rapidamente”, completou Montovani.
De acordo com os professores, há uma orientação para os alunos não perderem muito tempo em distrações nas redes sociais, o que inclui o Facebook. Os aplicativos educacionais fornecidos pelo Google também dão um alívio para os pais das crianças, que enxergam a escola como orientadora dos costumes digitais dos estudantes.
O uso de apps tem mensuração de tempo, para que os alunos não exagerem no tempo de uso e deixem de praticar atividades físicas ou sociais. O maior desafio é preparar os professores para que eles lecionem aproveitando o máximo de recursos que podem utilizar com os alunos.
Marcelo Lopes, coordenador de tecnologia, falou sobre o acordo que foi feito com o Google para o funcionamento de sua sala na escola. “A gente aplicou um design de hierarquia horizontal, em que os professores estudam junto com os alunos. O ambiente é de colaboração. A sala Google foi inspirada no próprio ambiente do escritório brasileiro, despojado, confortável e produtivo”, diz.
A rede Mater Dei também tem um colégio em São José dos Campos. Nesta segunda unidade também foi instalada uma sala Google com apps de educação.
Mateus, Juliana, Mariana, Maria Antônia, Giovana e Isabela gostaram muito de assistir aulas de inglês com aplicativos. Mariana, de 9 anos, ficou especialmente feliz com uma aula de biologia sobre os rios. “A gente usou a internet e conseguiu aprender com a Wikipédia”, explicou. A criançada também reclamou quando os mais velhos roubam o espaço da sala.
“É disputado, mas a gente conversa com eles”, afirma Maria Antônia.