- A impossibilidade de comentar sobre o agressor, que era próximo. A primeira violência.
- Lidar, sem entender, com a transformação do próprio corpo. A segunda violência.
- Ter de enfrentar a descoberta da família que, certamente, num primeiro momento, duvidou de sua versão. A terceira violência.
- A decepção de ter o direito legal negado pelo hospital e pelo médico. A quarta violência.
- Ser separada da mãe, num momento crucial de sua vida. A quinta violência.
- Enfrentar uma juíza fascista e ardilosa, que demonstrou querer quebrar suas parcas e frágeis convicções, se é que nesta idade ela tinha alguma, no fundo do seu sofrimento. A sexta violência.
- Ter a vida devassada e exposta. A sétima violência.
- Chegar ao hospital para, enfim, se submeter à cirurgia de retirada do feto. A oitava violência.
- Ir para casa e encarar o mesmo ambiente que a mutilou psicologicamente. A nona violência.
- Ter de se entender consigo mesma, a partir de um corpo devassado e em mutação. A décima violência.
Tudo na vida dessa garota foi chacoalhado, revirado e invadido. O que vai brotar daí por diante é a pergunta que devemos nos fazer. Esse decálogo percorrido por ela é o roteiro de muitas, que não ganham espaço e têm o futuro corrompido pela brutalidade dessa dor.
Em resposta, o Ministério da Saúde, do seu Queiroga, que quer eleger o Queiroguinha, divulgou um “manual”, que é a continuidade dessa violência. Os movimentos de mulheres estão conclamando a que entrem lá e protestem: “Não vamos aguentar mais um pouquinho”. Segue a versão do “manual” com o link para vocês se manifestarem também.
Publicado originalmente no site Jornalistas pela Democracia