Foi assim. Ou, pelo menos, ele diz que foi assim.
Uma bela manhã, o senador Aloysio Nunes, vice na chapa de Aécio Neves, encaminhou-se à tradicional padaria Barcelona, em frente à FAAP, em São Paulo, e topou com moradores do bairro.
Eles estavam inconformados com as ciclovias.
Aloysio, também do pedaço, ouviu as queixas. Imagine o homem, lidando com uma campanha em escombros. Ele, porém, solidariou-se com o pessoal e registrou seu protesto nas redes sociais. “Delírio autoritário de Haddad: esparrama ciclofaixas a torto e a direito, provocando revolta nos moradores de Higienópolis”, escreveu.
Sua manifestação ocorre três dias depois que a prefeitura inaugurou 1,4 quilômetro de ciclovias nas ruas Piauí, Armando Penteado e Itatiara.
Desde junho, a cidade ganhou quase 60 quilômetros de vias exclusivas para bicicletas. Ao todo, são 120 quilômetros. A meta é 400. Em 2015, será a vez da Paulista.
O Higienópolis de Aloysio ocupa um espaço sui generis na capital. O Conselho de Segurança da região já havia lavrado um boletim de ocorrência (!) contra ciclofaixas. Em 2010, houve um movimento contra a construção de uma estação de metrô que gerou um abaixo-assinado. Uma mulher revelou à Folha seu temor de que a obra atraísse “gente diferenciada”. O governo paulista acabou cedendo.
Associações de bairro servem para defender o interesse local. Ok. Mas não em detrimento da cidade. Bicicletas não são uma panaceia para o problema do trânsito obsceno de São Paulo e suas consequências. São, sem dúvida, uma das soluções. Cite qualquer metrópole desenvolvida no mundo que não tenha ciclovias (aqui um excelente estudo sobre o impacto delas em Nova York).
No Brasil, essa discussão tomou um rumo absurdo: bikes são coisa de comunista e maconheiro. Há quem argumente que as faixas vermelhas são propaganda subliminar.
O mundo de Aloysio é velho e esquisito. O que ele propõe em oposição às ciclofaixas? Não se sabe. O próprio Alckmin afirmou que pretende ampliar a malha.
Apesar de sua experiência administrativa em São Paulo — foi vice-governador e secretário de Negócios Metropolitanos na gestão Fleury e secretário municipal de governo na gestão Serra/Kassab –, a questão da mobilidade urbana nunca lhe passou pela cabeça.
Quer dizer, até esta semana, quando, por obra do destino, esbarrou, na fila do pão, com alguém e deu sua prestimosa colaboração ao debate.
Se alguém está tendo delírios autoritários, não é bem Fernando Haddad.
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