O depoimento de Palocci e as notícias extremamente exageradas da morte de Lula. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 8 de setembro de 2017 às 6:56
Quem morreu foi ele

 

“As notícias sobre minha morte têm sido extremamente exageradas”, observou Mark Twain certa vez.

O depoimento de Antonio Palocci a Sergio Moro foi recebido com imensurável alegria pelos suspeitos de sempre.

Ricardo Noblat, amigo de Temer, autor da fabulosa pergunta sobre como Michel conheceu Marcela num Roda Viva, decretou em sua coluna no Globo: “game over”.

“Palocci finalmente cedeu às pressões dos seus advogados e contou o que sabe em depoimento a Moro”, diz Noblat.

Eliane Cantanhêde se referiu a Palocci como “a bala de prata contra Lula”. Segundo ela, o ex-ministro “começa a falar verdades”.

Para Merval Pereira, “acabou a brincadeira para Lula”. Ricardo Kotscho, por sua vez, pergunta: “Fim de linha para Lula e o PT? Palocci entrega tudo”.

Quem precisa de Deus com jornalistas premiados com o dom da onisciência? Eles não apenas têm certeza de que Palocci não mente, mas de que Lula é um cadáver.

Faltam as provas, para começar. Palocci mesmo admite que está abrindo o que nunca havia aberto porque quer os benefícios da colaboração premiada, ou seja, sair da prisão. Foi condenado a 12 anos.

Paulo Francis um dia escreveu que o sujeito torturado entrega a mãe. Ninguém suporta. Palocci não precisou ir para o pau de arara.

Pode estar, sim, dizendo verdades. Mas vai ter que caprichar mais do que relatar “pactos de sangue” que não presenciou, como o de Lula com Emílio Odebrecht em torno de uma bolada de 300 milhões de reais.

O que chama mais atenção em sua conversa amigável com Moro, no entanto, é a postura subserviente, submissa, subjugada, humilhante, como a de um vira lata faminto tentando agradar a velha gorda que não gosta dele e que tem a ração.

“Me desculpe falar assim, Sua Excelência”;“o senhor quer que eu continue?”; “estou aqui para ajudar o senhor”. Permaneceu o tempo todo com os olhos fixos em seu proprietário, inclusive quando interpelado pelo advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins.

É um tribunal de exceção, uma aula do que não deve ser ou parecer a Justiça. Fica explícito que o acordo de Palocci só andou porque resolveu entregar Lula e “desmascarar” Dilma. “É assim que o senhor quer que que fique, chefe?”, era o subtexto da coisa.

Nada sobre bancos, empresas de mídia, outras empreiteiras, outros políticos. Não vem ao caso.

Quem morreu ali não foi o ex-presidente, mas o próprio Palocci e a noção de decoro do Judiciário. Um espetáculo imoral horrendo, o oposto do suicídio ritual do haraquiri, fundado na honra. O sujeito se deixou empalar.

Quanto às notícias sobre a morte de Lula, tantas vezes decretada, continuam exageradas. Provavelmente ele será condenado na segunda instância — mas quando? Como ter tanta convicção de que o roteiro desenhado vai se cumprir?

Quem poderia esperar o sucesso da caravana no Nordeste? É absurdo achar que mais pessoas não percebem o que está sendo feito. No momento de maior fragilidade da Lava Jato, autodesmoralizada por seus agentes, é preciso trazer Lula, Dilma e o PT para os holofotes novamente.

Se esses lacaios fizessem jornalismo e não militância vagabunda, esperariam uma próxima pesquisa presidencial. Aposto 20 centavos como terão uma surpresa desagradável com o resultado.