O deputado que quer a pena de morte preventiva no Brasil não está sozinho. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 25 de julho de 2015 às 9:09
Laerte Bessa
Laerte Bessa

 

Anote este nome: Larte Bessa.

Se alguém quiser saber como as bancadas da bala e a evangélica estão atirando o Brasil no século passado, é preciso prestar atenção nele.

Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, Bessa, que foi relator da comissão da maioridade penal na Câmara, contou como encontrou uma solução simples e genial para a questão da criminalidade.

“Daqui a uns vinte anos, nós vamos reduzir pra 14, depois pra 12, e vai baixando, até chegar na barriga da mulher”, afirmou.

“Até lá, os cientistas já descobriram uma forma de descobrir se o moleque é criminoso e então não vai deixar nascer. Aí vai resolver o problema”.

A frase foi pinçada pela revista Fórum. Diante da repercussão, Bessa publicou um desmentido, dizendo que nunca “falou em aborto”. O jornalista inglês acabou por colocar no ar o áudio completo da conversa.

Na gravação, ouve-se o repórter, estupefato, perguntar ao interlocutor: “Desculpa, você está falando sério?” Sim, claro que estava falando sério. Bessa não se faz de rogado e repete tudo.

O inventor da pena de morte preventiva é deputado pelo DF e ex-delegado. Figura controvertida, valentão de filme do Mazzaroppi, ficou famoso quando chamou para a briga jovens que o vaiavam quando subiu ao palco de um show em 2009. “Tudo vagabundo”, diz ele, ao microfone.

A eugenia que está pregando já teve seu momento no Brasil. O artigo 138 da Constituição de 1934 estabelecia o seguinte: “incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis respectivas, estimular a educação eugênica”. Ela deveria ser aplicada a “órfãos e abandonados, pretos ou pardos, débeis ou atrasados”.

Era uma influência do nazismo. Um dos maiores divulgadores desse determinismo biológico, por aqui, era o líder integralista Plínio Salgado. Nos anos 30, o professor, escritor e político Afrânio Peixoto enxergava a segregação de crianças e adolescentes “degenerados” como forma de garantir a “saúde da Nação”.

O eugenismo foi atirado na lata do lixo da história como “teoria científica” depois que a barbárie nazista nos campos de concentração ficou conhecida.

Laerte Bessa é um homem ignorante e provavelmente não saiba de nada disso. É duvidoso que tenha noção de quem seja Plínio Salgado, seu tio espiritual — mas isso talvez seja mais assustador. Talvez tanto quanto saber que ele não está sozinho.