O descanso de Ciro, o “apoio crítico” de Marina e a encruzilhada evangélica. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 22 de outubro de 2018 às 23:10
Fofos

Ciro Gomes conseguiu a proeza de piorar ainda mais a sua imagem.

Depois de ter abandonado o campo de guerra da luta pela democracia para tirar férias com sua família na Europa em pleno segundo turno das eleições, numa simples sentença deixou o seu irmão, Cid Gomes, com inveja de tamanha capacidade para dizer a coisa errada no momento errado.

Abordado e questionado no metrô de Paris por uma brasileira ciente do que representa a eleição de Jair Bolsonaro, o velho Ciro lhe respondeu, gentil e calmamente, que estava “muito cansado”.

A mulher que o interpelou é Érika Campelo, diretora de uma associação cultural. Sua pergunta foi simples, direta e que muitos progressistas gostariam de tê-la feito: Por que você não está no Brasil?

Não sei exatamente de quantas formas essa resposta de Ciro agride, humilha e desrespeita todos nós que estamos lutando diuturnamente em favor da democracia.

Difícil mensurar quão decepcionado pode ficar o eleitor que votou na sua chapa por acreditar honestamente que estava ao lado de uma inesgotável fonte de braveza, força e atitude em defesa da democracia.

Ainda mais quando esse mesmo eleitor agora milita heroica, responsável e incansavelmente ao lado daquele que ora se apresenta como a última esperança de democracia frente ao fascismo.

Nada importando, é preciso que se diga, eventuais ou mesmo profundas divergências com o PT.

Ao dizer que está “muito cansado” nos ares sempre frescos da cidade luz, Ciro apenas lembra aos pobres mortais cuja luta diária é sua única forma de manter-se vivo que, para alguns, certas guerras não passam de uma ótima oportunidade de ocasião.

E é disso que se trata o “apoio crítico” do PDT. Uma forma um tanto quanto cretina de se manter na campanha. A sua própria campanha.

Tanto é que nessa mesma esteira, a uma semana da votação, Marina Silva, a política quadrienal, declara o seu “voto crítico” em Fernando Haddad.

Marina, sabemos todos, é uma oportunista barata que a cada eleição se deteriora cada vez mais.

Mas até para os padrões “marinenses” de oportunismo, a eleição de Jair Bolsonaro e a sua “pauta” para o meio ambiente é um purgante amargo demais para o seu rancor antipetista.

Marina sabe, tanto quanto Ciro, que Bolsonaro é apenas um fariseu que fala em Deus, paz e amor para evangélicos enquanto concebe preconceito, racismo, tortura e morte com os seus facínoras.

E é nesse ponto que uma parcela gigantesca da sociedade brasileira se depara com uma encruzilhada de ordem moral, ética e religiosa.

Me parece inadmissível que evangélicos – e cristãos como um todo – declarem apoio a um homem que representa o exato oposto de tudo o que Cristo pregou.

É um contrassenso intransponível que fiéis que juraram obediência aos dez mandamentos (entre eles o “Não matarás”), alcem ao poder alguém que defende a matança de opositores em proporções impublicáveis.

Para além do compromisso inadiável com a democracia, católicos e evangélicos, por força de sua crença e fé, possuem obrigação cristã em impedir que um anticristo chegue ao poder.

Até porque, nesse caso específico, uma vez caído em tentação, o castigo chegará muito antes do que esperam ser a sua prestação de contas no além.