O destino dos déspotas. Por Moisés Mendes

Atualizado em 3 de janeiro de 2020 às 7:05
Carlos Ghosn. Foto: AFP

Publicado originalmente no blog do autor

Carlos Ghosn, o sujeito que fugiu do Japão para o Líbano, era o Bolsonaro da indústria automobilística. Todos sabiam quem ele era por onde passou, na Renault, na Nissan e na Mitsubishi.

Ghosn espalhava o terror e degolava milhares de operários com prazer, porque precisava aumentar a produtividade a qualquer custo e estar sempre bem com os acionistas.

Agia como um tirano sem escrúpulos e se vangloriava de ser um vencedor de confrontos com líderes sindicais. Por sua ação destruidora de empregos, criou muitos inimigos fora das empresas.

Mas, como um Bolsonaro, produziu adversários ferozes também dentro dos grupos que comandou. Os ex-companheiros o denunciaram por estar roubando da Nissan. Os próprios executivos com quem convivia o delataram como ladrão.

Ghosn impôs seu autoritarismo, bem à la Bolsonaro, às custas de dissidências. Como acontece com o homem que governa o Brasil e tem hoje ex-apoiadores como inimigos.

A maior ameaça para Bolsonaro são seus ex-aliados enfurecidos, como os que trabalhavam para o sujeito que dizia agir com mão de ferro para defender os acionistas, acabou roubando dos seus empregadores e hoje é foragido da justiça japonesa.

O brasileiro adorado pela imprensa nativa, porque seria um fodão, considerava-se um executivo poderoso, intocável e imbatível, um dos mais admirados predadores do primeiro time do capítalismo mundial.

Foi flagrado roubando e teve de fugir para o Líbano para não apodrecer na cadeia no Japão.

Em algum momento, os déspotas fogem, ou tentam fugir, ou são pegos. Transformam-se em chinelões fugindo da polícia, da justiça ou do povo. Poucos déspotas sobrevivem inteiros.