O dia em que a torcida corintiana foi para a frente da Fiesp. Por Mauro Donato

Atualizado em 23 de abril de 2016 às 8:33
Em frente à Fiesp
Em frente à Fiesp

 

Há quase dois meses o quarteirão da avenida Paulista onde se localiza a Fiesp é território dominado pelos apoiadores do impeachment de Dilma Rousseff. Um camping está armado ali desde o dia da nomeação de Lula como ministro.

A única ocasião na qual o acampamento foi desmontado, mas na mesma noite restabelecido, foi no dia 18 de março quando Lula esteve presente na avenida em uma manifestação pró governo.

Desde então todos os atos contrários ao golpe são marcados preferencialmente para bem distante dali. No Largo da Batata ou no vale do Anhangabaú ou, quando muito, no MASP, mas na hipótese do ato andar vai-se em direção contrária, sentido Consolação. Exatamente como ocorreu na tarde da última quinta-feira.

No início da noite de ontem, entretanto, um ato convocado através das redes sociais pelo Coletivo pela Democracia, teve como localização não só a avenida Paulista, como o ponto de concentração determinado foi em frente ao prédio do pato amarelo da Fiesp. Em frente ao acampamento que possui cartazes venerando o ‘mito’ Bolsonaro. O intuito: demonstrar que a avenida não está loteada e que aquele trecho não tem dono.

“Hoje é um desdobramento do grande ato que fizemos ontem (quinta-feira). Queremos demonstrar nossa insatisfação contra o apoio da Fiesp ao golpe. O patronato vem apoiando isso desde o início e estamos para aqui para mostrar que a Fiesp não é dona da Paulista. Mas nossa proposta não é confronto, não é briga. Até porque a PM fica ali do lado deles. A gente sabe que se acontecer alguma coisa, ela virá contra nós”, disse David Villalva.

Como já tem se percebido há algum tempo nas manifestações anti-golpe, uma expressiva presença de manifestantes trajando a camisa retrô do Corinthians. A número oito, de Sócrates, com maior frequência. Ontem não eram simples coadjuvantes. Protagonizaram o ato, portando a maior faixa do protesto.

Eram membros do recém nascido Coletivo Democracia Corinthiana, grupo em apoio à continuidade do governo. Sem ligação com nenhuma torcida organizada, o coletivo é ‘um ato do corintianismo cidadão’, segundo seus participantes.

“O Corinthians era o time dos carroceiros. Foi o time que nasceu para dar vez e voz ao povo. Então nosso ethos é popular, é um ethos de sedição permanente. Nos anos 80 tivemos a Democracia Corintiana que colaborou para acabar com a ditadura militar. Por isso não podemos fugir a essa tradição, é uma honra nossa. O Corinthians tem um viés de esquerda e nunca vai perder isso. Nos juntamos naturalmente nas lutas populares. Existe uma clara ameaça contra os direitos trabalhistas e a Fiesp está por trás disso. E nós estamos aqui para dizer ‘não’”, declarou Valter Falceta, jornalista e um dos organizadores do movimento.

A proximidade entre os grupos causou alguns momentos de tensão, com direito a provocações e muito bate boca. O caldo quase entornou de vez quando Isabela Trevisani, a revoltadinha famosa pelos vídeos anti-PT, foi até o meio da avenida e cuspiu em um manifestante pró democracia. A polícia então estacionou uma viatura que fez as vezes de linha de separação entre os dois grupos.

Os dois coletivos organizadores prometeram retornar ao local na data de hoje e não é exagero imaginar que em breve, caso resolvam se estabalecer ali, acabem por expulsar os partidários do impeachment, até porque aqueles já estão com seu número de participantes e de barracas visivelmente reduzido.

Claro, a cada passo na direção do afastamento de Dilma, eles dão sinais de que irão tirar o time de campo, colocando por terra o discurso de que lutariam contra a corrupção, contra todos os corruptos, contra Cunha, e bla bla bla. Tão logo ocorra o afastamento da presidente aquele camping evaporará.

Agora é acompanhar os próximos capítulos. Como no jogo War, ontem uma peça foi colocada dentro daquele território. O tabuleiro da avenida Paulista ganhou outra dinâmica.