O dia em que Edir Macedo pagou o cinema para mim. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 21 de abril de 2018 às 14:16
Filme “Nada a perder”. Foto: Divulgação

Fui ao cinema assistir à ficção baseada em fatos reais ou não tão reais assim “Nada a perder”, que conta a trajetória do bispo-empresário Edir Macedo.

Quando pedi um ingresso na bilheteria, descobri que pra ver esse filme não precisa pagar: a Igreja Universal paga pra você.

“Chama ali o pessoal da igreja!”, disse o bilheteiro.

Surgiu um rapagote para me entregar o ingresso e descobri para onde vão os bilhetes que a própria Universal – igreja de Edir Macedo, não por acaso protagonista do filme – tem comprado para “lotar as salas de cinema” (quando os irmãos não os usam pra limpar a bunda).

Além de pagar o ingresso, a Universal mandou os próprios ônibus buscarem grupos de moradores da Liberdade, bairro periférico de Salvador, para assistirem ao filme, e os pobres pisaram em massa, como quase nunca pisam, no Espaço Itaú de Cinema, reduto da burguesia cult com pinta de artista.

Eu e você não teríamos nada com isso se a Igreja Universal não tivesse um projeto político no Brasil – além de sua própria emissora de TV, jatinhos, deputados e senadores.

O filme é tão pretensioso quanto esse projeto e quanto o próprio nome “Universal”: Edir se coloca como herói escolhido por Deus, e sua autoimagem, do início ao fim, é grandiosa.

Depois de “evangelizar a África” e dizer que os rituais africanos são desígnios malignos, ele se coloca como herói que lutou “contra tudo e contra todos para ganhar almas pra Deus” (Deus não ganha as próprias armas, bispo?) em um filme recheado de clichês motivacionais, closes nos olhos e música cafona, que só consegue ser cômico quando tenta ser trágico.

A história contada no filme – e, principalmente, a maneira como é contada – não seria crível nem mesmo se não soubéssemos que a Igreja Universal é uma empresa e Edir Macedo é o CEO, com uma fortuna avaliada pela revista Forbes em 3 bilhões de reais.

Pagar para que vejam um filme de autopromoção que beira o patético – pior: buscar as pessoas em casa para que vejam – só não é mais canalha do que falar em nome de Deus, que nem está aqui pra se defender.

Nem precisava tanto investimento. O único filme de Edir Macedo a realmente entrar para a história é e continuará sendo este – um pouco mais humilde, é verdade, mas cheio de verossimilhança.