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O dia em que Maluf encontrou Jesus

Ele

 

Do Livro de Miguelito, capítulo 67, versículo 952:

E então Paulo Maluf, o homem que consagrou o “rouba mas faz” e transformou seu sobrenome em sinônimo de assalto, se comparou ao Senhor.

Num comício em São Paulo, ao comentar a decisão do TSE de negar o registro de sua candidatura por causa da Lei da Ficha Limpa, ele disse: “Meu eleitor, como todo eleitorado de São Paulo, é esclarecido pois lê jornal, internet e ouve rádio. Sabe que me impugnaram em 2006, 2010 e agora em 2014 e sou candidato. É o ônus da vida pública. Jesus Cristo, Getúlio Vargas e Juscelino também foram injustiçados.”

Não é um pensamento original. Onze entre dez políticos já repetiram isso. Recentemente, Marina Silva afirmou que oferecia sua outra face aos seus detratores. Lula já declarou que, no Brasil, “Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”. A lista é interminável.

Quando figuras públicas vão perceber que se comparar a Jesus nunca é uma boa ideia? Por que sempre o pobre JC?

Não se trata de exigir respeito à religião — aliás, muito pelo contrário. Mas por que não resgatar outros personagens? Que tal Napoleão, Bruce Lee ou Krishna? Maomé? Mussum? Ou mesmo Deus?

Não. Sempre ele, Jesus.

Se fosse candidato, Cristo provavelmente estaria numa situação pior que a de Maluf. Pior que a de Levy Fidelix.

Você votaria em alguém cuja plataforma de política externa fosse “amai vossos inimigos”? Um orçamento baseado na máxima “ama o próximo como a ti mesmo”?

Um candidato envolvido em diversos atos de desobediência civil, sendo que seus adversários o acusavam de andar com as piores companhias e fazer festas de arromba transformador água em vinho?

Maluf e milhares de outros que falam em nome de Jesus provavelmente não o contratariam para organizar um chá de bebê.

Alguém falou que misturar política e religião é como misturar sorvete e estrume. Não acontece muita coisa com o estrume, mas o sorvete estará arruinado.

A única analogia possível entre Maluf e Jesus é que, se ele conseguir se candidatar, tem todas as chances de se eleger novamente — e quem carregará essa cruz continuará sendo você.

(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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