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O dia em que Moro finalmente piscou. Por Paulo Nogueira

Moro recebe um prêmio da Globo com João Roberto Marinho à sua esquerda: sintonia

E Moro piscou.

Não existe expressão melhor: Moro piscou.

Há outras, mas não tão boas. Por exemplo: sair pela tangente.

Foi assim que o jurista José Gregori, insuspeito de petismo, se referiu ao triste papel de Moro nesta sexta.

“Na realidade o que parece é que esse juiz queria era prender Lula. Não teve a ousadia de fazê-lo e piscou”, disse à BBC Gregori, ministro da Justiça de FHC entre 1997 e 2000.

Antes, com a mesma clareza, Gregori afirmou o que você não leu e nem vai ler em nenhum editorial das grandes empresas jornalísticas. “Não existe na nossa legislação a figura da condução coercitiva sem que tenha havido antes a convocação. A praxe tem sido essa: você convoca a pessoa a comparecer e, se ela não comparecer, então na segunda vez vem a advertência de que ela poderá ser conduzida coercitivamente.”

Mas ficou claro: a Lava Jato não opera com praxe, para usar a palavra de Gregori. Opera com exceção.

Moro piscou em algum momento na manhã de sexta, quando já não havia dúvidas de que havia o risco de que a situação fugisse do controle e corresse sangue de brasileiros.

Por que Lula foi levado logo para Congonhas? Para admirar a beleza dos aviões? Ou para ser embarcado para Curitiba?

A prisão de Lula não seria aceita de forma passiva não apenas pelos petistas – mas por todos aqueles que já não suportam mais serem tratados como débeis mentais pela aliança entre Globo, Moro, PF e MPF.

Não estranharia se na piscada de Moro houvesse havido a intervenção da Globo. Porque também para a Globo a situação começou a se deteriorar.

As redes sociais explodiram em ódio e indignação contra a Globo. No Twitter, hashtags anti-Globo viralizaram. Nas ruas, repórteres da emissora enfrentaram hostilidade e escárnio.

Num dos melhores momentos, um manifestante aproveitou que uma repórter da Globonews estava no ar e se colocou atrás dela para que a câmara mostrasse um cartaz que falava da Paraty House, a mansão criminosa que a Globo alega não ser dela a despeito de todas as evidências de que é.

A sequência de fatos – Jornal Nacional-tuíte de um jornalista da Globo se gabando na quinta de que na sexta Lula seria detido-e a condução coercitiva determinada por Moro – foi mais que do milhares e milhares de pessoas poderiam engolir.

A Globo voltou a ser vista como o que sempre foi: como um instrumento da plutocracia para manipular os brasileiros e afastar, por golpe, governantes populares.

Na Era da Internet, em que as informações circulam sem o controle das empresas jornalísticas, as consequências dessa repulsa à Globo seriam imprevisíveis caso a prisão de Lula fosse efetivada.

Moro piscou, ou saiu pela tangente, como disse Gregori. E a Globo, ao que tudo indica, também.

A Globo claramente está aloprada, mas isso não significa que queira se suicidar. Numa demonstração do desequilíbrio avassalador de seus executivos de jornalismo, o diretor de novas mídias Erick Bretas colocou como avatar no Facebook, ontem, a foto de Sérgio Moro.

Avatar de Moro sem ficar envergonhado: Bretas

Isso depois de dizer, sem pudor e sem noção da gravidade do que afirmava como diretor da maior empresa de mídia do país, que Dilma tinha que ser deposta e Lula preso.

Se Bretas está postando este tipo de conteúdo desvairadamente golpista sem que ninguém lhe chame a atenção, você pode avaliar a temperatura no jornalismo da Globo.

Graças à internet, e não apenas a ela, o Brasil de 2016 não é o Brasil de 1954 e nem o Brasil de 1964, ocasiões em que a Globo teve uma contribuição abjeta para a destruição de dois regimes consagrados pelos votos – sem pagar depois o preço por isso.

Foi o que se viu ontem, quando a reação ao golpe fez Moro piscar – e com ele sua aliada Globo.

Ou, se preferem Gregori, saírem pela tangente.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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