O dia em que os “seguranças gatos” do metrô de SP se transformaram em animais. Por Mauro Donato

Atualizado em 23 de dezembro de 2015 às 9:26


Era o fim de mais uma manifestação contra a reorganização do ensino convocada pelo Comando das Escolas em Luta. O ato percorreu tranquilo desde a saída no MASP e terminou em paz nas escadarias da catedral da Sé na noite de ontem.

Já dentro da estação do metrô, alguns poucos decidiram praticar o “catracaço”. Foi a senha para o fest-pancadaria promovido pelos seguranças que espancaram quem vissem pela frente (e pelas costas).

Bateram indiscriminadamente em mulheres, em meninas menores de idade, em professores, na imprensa, em usuários que tinham pago a passagem (!). Um deles levou duas borrachadas (uma delas perigosamente na nuca) e foi jogado para o lado de fora das catracas. Jovens do sexo masculino foram a presa predileta. Perseguidos e quase linchados.

O fotógrafo André Lucas Almeida teve a lente da câmera despedaçada. Por qual segurança? Impossível saber pois os mais violentos adotaram o costumeiro comportamento da PM e tiraram suas identificações.

Tudo isso pelo que mesmo? Por algumas pessoas terem pulado a catraca? Isso justifica a selvageria?

Ser Agente de Segurança parece ter caído nas graças de um determinado segmento e isso está sendo muito nocivo. Atingiram um status de subcelebridade grotesco.

Eles se acham ‘gatos’ e o plantel da Sé tem ainda uma banda de música que costuma se apresentar ao vivo ali mesmo. Vaidade pouca é bobagem. O interessante é que eu mesmo já flagrei centenas de vezes músicos serem expulsos de estações. Às vezes acaba mal. Em agosto deste ano Carlos Adriano Oliveira, 27 anos, tocava flauta de bambu para angariar alguns trocados e foi covardemente agredido por um segurança da estação de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Gerou um protesto de músicos dentro dos vagões.

Há páginas em redes sociais para os ‘seguranças gatos’. São assediados pelas mulheres, seus penteados refletem uma preocupação extrema com a imagem. A função parece ter se tornado uma posição muito cobiçada que faz com que se sintam acima do bem e do mal.

Um levantamento no perfil dos seguranças demonstra que há um grande número de lutadores de jiu-jitsu, são fãs da Polícia Militar e do militarismo. Em português claro, “eles se acham”. Repare em suas posturas (além de ter o ego massageado, o Agente de Segurança Metroviária tem no pacote de benefícios o auxílio alimentação, auxílio refeição, plano de saúde médico e odontológico extensivo aos dependentes legais, seguro de vida, programa de participação nos resultados e bilhete de serviço com acesso gratuito ao sistema Metrô e CPTM).

Mas se pertencer à PM é um sonho frustrado da maioria ali, a direção do metrô precisa lembrá-los de que não são um pelotão militar. Aliás não são nada além de seguranças. Não podem agredir assim, sem mais nem menos sobretudo por motivo torpe.

A segurança do metrô precisa urgentemente rever seus procedimentos. Todos eles. O histórico está piorando a cada dia. São inúmeros os casos de abuso e as punições de nada estão adiantando. Em 2013 três seguranças foram autuados por abuso de autoridade após agredirem estudantes na estação Barra Funda. Em 2014 uma estudante de 24 anos resolveu pular a catraca após não conseguir usar o Bilhete Único. Ela tinha acabado de recarregar o cartão mas ele não funcionou, foi agredida com um soco no rosto por um segurança. Ele foi demitido. Este ano até uma morte ocorreu em condições ainda mal explicadas após a agressão de seguranças. E daí? Daí nada, a truculência permanece e quando a ocasião obedece a um contexto de protesto eles pesam a mão com gosto.

No final da pancadaria de ontem, um grupo de seguranças ria às gargalhadas comentando os golpes e safanões. Depois um deles ainda colocou o cassetete entre as pernas e balançou-o obscenamente para uma professora que insistia em protestar contra a violência.

Eles podem ser muito bonitinhos, mas cérebro que é bom….