O Dia Internacional da Mulher. Por Miguel Paiva

Atualizado em 8 de março de 2023 às 7:19
Dia internacional da mulher. (Foto: Reprodução)

Por Miguel Paiva

O Dia Internacional da Mulher deixou de ser uma data para se homenagear as mulheres e virou uma data símbolo de uma batalha cada dia mais acirrada. Sou homem e só posso exercer meu lugar de ouvir. A palavra agora é com elas já que isso foi negado durante todo o sempre. As mulheres, creio eu, puderam então revelar todo um universo que nós homens não fazíamos ideia. Falo então por nós, homens, talvez de um modo meio especial porque sempre fui um homem em reconstrução. Esse é o termo exato. Reconstrução, assim como o governo Lula. Não precisamos de união, Isso já temos atavicamente e exercemos de modo equivocado há séculos.

Precisamos parar e refletir porque estamos perdendo tanto espaço. De onde vem esse senso de poder que herdamos e que demoramos tanto para nos livrar? Se formos pensar nas transformações que as mulheres viveram nos últimos tempos, foram muitas. Até pouco tempo as mulheres não podiam quase nada. Eram assumidamente subalternas, serviam de reprodutoras e eram descartadas assim que o tempo passasse só um pouco. Mas isso mudou. As mulheres evoluíram, mudaram as regras, se juntaram, elas sim e nós, homens ficamos olhando essa transformação e boa parte de nós achando um absurdo.

Empoderamento feminino. (Foto: Reprodução)

Esse poder, segundo esses homens, não pode ser contestado. Mulheres que demonstram qualquer independência ou opinião divergente devem ser eliminadas. Os feminicídios aumentaram muito, a violência em geral carregada de machismo também e enquanto a educação não abordar livremente esse tema vai ser difícil começar a mudança. Nós ficamos para trás e estamos cada vez mais longe delas, nem no retrovisor aparecemos mais. Talvez no espelho apareça outra mulher querendo estabelecer uma relação afetiva e até sexual que dê mais prazer e gratificação a elas duas.

A relação com os homens começa a fazer água. Difícil de se manter. Somos turrões, machões e não gostamos de dividir nada com ninguém. Ao mesmo tempo não sabemos viver sozinhos. A situação fica estranha. Mesmo as mulheres que insistem e querem uma relação heterossexual normativa sentem essa dificuldade. Para não sentir é preciso virar do lado do avesso, virar Michelles ou Damares para poder com isso sedimentar, ilusoriamente, a supremacia masculina. Não confio nem em Damares, nem em Michelle. Elas podem virar o jogo e jamais será a favor delas mulheres. São personagens que vivem disfarçadas num conceito de feminilidade construído pelos homens. Esses mesmos homens ainda estabelecem o que a mulher pode ou não fazer com seu corpo. O aborto, apesar de toda a pressão da Igreja, o que também não se justifica, deveria ser uma decisão só das mulheres, assim como a própria sexualidade, o jeito de ser, o gosto e o desejo.

Se coincidir de nos encaixarmos que bom. Ainda temos muito o que aprender. Nem sei dizer como, mas começamos bem sabendo ouvir e tentando abrir mão desse conceito de poder que não resiste mais. Por isso vamos aproveitar o dia 8 de março para ouvir. Já é um bom começo desta celebração que devemos a elas.

Originalmente publicado por Jornalistas pela Democracia

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