O dilema do comandante: a punição é a Bolsonaro. Por Fernando Brito

Atualizado em 26 de maio de 2021 às 19:42
Bolsonaro e Pazuello

Originalmente publicado em TIJOLAÇO

Por Fernando Brito

Compreende-se a cautela com que o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, conduz a punição de Eduardo Pazuello pela transgressão disciplinar, evidente e provocadora, de ir discursar ao palanque de Jair Bolsonaro, domingo, no Rio de Janeiro.

Nomeado por ele para o comando da Arma há dois meses, o general sabe que não se tratou de um ato pessoal de Pazuello apenas, mas de uma convocação política feita pelo Presidente para que o “nosso gordinho” estivesse lá, galgando mais um degrau do que pretendia mostrar ser o “seu” Exército, como fizera antes ao convocar para isso o Ministro da Defesa, Braga Netto, a quem deu a mesma tarefa, uma semana antes.

Netto, porém, é da reserva e pode, embora jamais devesse, comparecer a manifestações políticas. Agora, com Pazuello, Bolsonaro vai um passo além e transgride o limite legal com um oficial que, por tudo, já se lhe mostrara “pau para toda obra”, inclusive para afrontar seus colegas com a resistência em passar à reserva.

Paulo Sérgio, porém, sabe que – embora com respeito absoluto aos prazos regulamentares – terá de tomar a atitude disciplinar que o cargo de comandante lhe impõe, o Alto Comando deseja e a opinião pública e a mídia lhe exigem.

Mas não ignora que, quando a tomar, será criticado e contestado pelo seu comandante em chefe, o presidente da República.

É exatamente isso que pretende Bolsonaro, que enxerga o Exército como um lugar de camaradagem e espírito de corpo, não como uma instituição baseada na hierarquia e na disciplina.

E que tem, é notório, um histórico de sabotagem a ambas.