Os ingleses discutem o direito de escolher a hora de morrer

Atualizado em 22 de março de 2013 às 10:20

O suicídio assistido é tema de debate no Reino Unido.

Clínica Dignitas, na Suíça
Clínica Dignitas, na Suíça

O filósofo e historiador britânico David Hume, um dos mais brilhantes e versáteis intelectuais do século 19, escreveu um livro em defesa do direito ao suicídio. Logo nas primeiras linhas ele disse: “Não conheço de alguém que tenha posto fim à vida enquanto ela valia a pena”.

Nem eu.

Hume me veio à mente depois que li a notícia da morte de uma ex-produtora da BBC, Geraldine McClelland. Aos 61 anos, Geraldine, com um câncer terminal no fígado, decidiu morrer na clínica suíça Dignitas, especializada em suicídios assistidos.

Ela deu uma entrevista, um dia antes de viajar, que comove – mas mais que isso faz pensar.

“Não estou triste”, disse ela. “Estou com raiva da covardia dos nossos políticos. Por causa disso não pude morrer no meu país.”

Na Inglaterra, os médicos não podem ajudar o doente a morrer. São muitos os ingleses que acabam indo para o Dignitas. É um assunto que está sendo objeto de intensa discussão. A pressão para que a legislação se altere é cada vez maior, e com certeza o caso de Geraldine vai inflamar ainda mais o debate.

A lei inglesa é dura.  Imagine que um filho acompanhe a mãe em estado terminal à Dignitas para ampará-la nos momentos finais. Ele pode ser preso ao voltar e pegar até 14 anos de cadeia. Tanto rigor é justificado pela possibilidade de que pessoas velhas e vulneráveis poderiam ser mortas por interessados em apressar o recebimento da herança.

É provável que isso mude, e em breve.

Ótimo.

O suicídio, como escreveu Sêneca, é uma porta de saída legítima para quem, como Geraldine, não vê mais sentido na vida. Ou “a mais bela das mortes”, segundo Montaigne.  Na entrevista que Geraldine concedeu, ela conta que poucos dias antes não conseguiu sequer entrar num táxi. “Isso não é vida”, afirmou. O que a esperava? Dor, mais dor, ainda mais dor, e a morte.

Há uma visão para mim errada segundo a qual o suicida é “egoísta”. Egoísta, para mim, é quem não vê que para se matar a pessoa certamente chegou a um estágio em que a vida já não tem nada de bom a oferecer.

Se você pensa  menos em você mesmo e mais no suicida, pode acabar chegando a uma conclusão capaz de mitigar a dor da perda: foi o melhor para ele.

No caso específico de Geraldine, consideradas as perspectivas cruéis que a aguardavam, tenho s convicção de que ir para a Suíça foi a melhor opção entre as poucas que lhe restaram.