O diretor da Globo para o qual os estudantes de SP estavam brincando de Primavera Árabe. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 4 de dezembro de 2015 às 21:16
Mais Marinho que um Marinho: Erick Bretas
Mais Marinho que um Marinho: Erick Bretas

Aconteceu o previsível.

No programa de Fátima Bernardes, uma repórter da Globo foi cobrir os protestos da garotada de São Paulo ao vivo.

Foi um embaraço. Mais um.

Assim que os estudantes viram quem estava ali, começaram a gritar: “O povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo.”

O pano teve que descer rapidamente. A Globo transmitiu, ela mesma, o ódio que desperta num público mais politizado, como os estudantes paulistas que ocuparam as escolas.

Não é implicância.

Qual vinha sendo o teor da cobertura da Globo? Bem, você pode ver por uma extraordinária postagem no seu Facebook feita por um dos principais jornalistas da Globo, Erick Bretas.

Bretas ocupa a função absolutamente estratégica de diretor de novas mídias da Globo. Isso significa que compete a ele fazer da Globo uma empresa relevante na mídia do futuro, a internet.

Tão logo anunciada a demissão do secretário da Educação de São Paulo, Bretas endereçou ironicamente parabéns a “vocês que estão achando o máximo o cancelamento da reorganização das escolas de São Paulo”.

Ele louvou o demitido, sabe-se lá com base em que, e fuzilou o movimento dos estudantes. Disse que os alunos estavam brincando de “Primavera Árabe”.

O secretário teria se cansado, segundo Bretas, da “brincadeira”. Fora tudo, há um erro de informação básica: ele foi demitido. Não saiu por “cansaço”. Para coroar, Bretas agrediu a gramática. Escreveu “viva os prepostos das empreiteiras”, em mais um rasgo de civismo obtuso. O certo, claro, é “vivam”.

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Você tem em Bretas o espírito da Globo. Como Ali Kamel e Merval Pereira, ele reproduz as ideias dos Marinhos. É mais Marinho que um Marinho real.

São estes que fazem carreira na Globo. A Globo se aparelhou no jornalismo. Não há pluralismo. Não há debates de ideias. Há uma série de Bretas nas posições importantes nas várias plataformas da casa, jornalistas como Diego Escosteguy, editor chefe da Época. Escosteguy é o campeão dos furos imbecis, coisas tolas e inúteis e quase sempre inverídicas que ele trata como se fossem réplicas de Watergate.

São representantes da direita oca, na qual há pouca leitura, pouco reflexão, pouca sofisticação — e doses copiosas de reacionarismo entusiasmado.

O futuro digital da Globo repousa nas mãos de um homem precocemente velho, um quase ancião com 40 e poucos anos.

Bretas não captou o espírito do tempo, o Zeitgeist, ao contrário dos jovens paulistanos que ocuparam as escolas e fizeram Alckmin dobrar os joelhos.

A Globo, assim, continuará a ser a mesma Globo de sempre em sua atuação digital. Estará condenada a levar esculachos diante de gente que pensa, como se viu no programa de Fátima Bernardes.

O noticiário contaminado da empresa nasce de diretores e editores como Bretas e Escosteguy, que interpretam à sua maneira o que imaginam que os Marinhos queiram ver nos seus jornais, revistas, sites, telejornais, rádios. Há uma anedota segundo a qual um editor da Globo, ao chegar à empresa, dizia: “Agora vou ler o editorial para descobrir o que eu penso.”

Simpatia zero pelo garoto esmurrado: isto é Bretas
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E assim as escolhas são feitas. Alguma simpatia pelos estudantes que defenderam suas escolas de serem fechadas sem nenhuma satisfação e, por isso, apanharam de policiais truculentos e mal-encarados?

Zero.

Os estudantes, na visão de Bretas, estavam brincando de “primavera árabe”.

Nem Roberto Marinho era exatamente um filósofo e nem seus três filhos são. Mas perto de Bretas e similares são, todos eles, intelectuais de alto relevo.