O discurso de Zé de Abreu foi bom para a democracia — mas melhor para Faustão e Globo. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 25 de abril de 2016 às 16:59

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O discurso de José de Abreu no programa de Fausto Silva foi contundente e tirou um travo da garganta de muita gente.

Falando para uma plateia misteriosamente vestida de vermelho, Zé de Abreu explicou o episódio do cuspe, acusou, sem citar o nome, Reinaldo Azevedo de criminalizar todos os petistas e de instilar o ódio e disse que “estamos vivendo uma situação de golpe ao Estado democrático de direito”.

Sobre a cusparada, contou que a mulher do advogado que o xingou chamava sua esposa de “vagabunda” e a ele de “filho da puta”. Para evitar uma confusão num lugar lotado, recorreu à saliva.

A direita tem “dificuldade de conviver com as diferenças” . Detonou Michel Temer, seu operador Moreira Franco e o “PMDB do Rio, esse aí que derruba ciclovia”. Eduardo Cunha é “ladrão”, declarou.

Enfim, um recado forte em plena rede nacional, em pleno final de semana, para todo o Brasil. Maravilha.

E aí?

E aí que é muito pouco, tarde demais. Não por culpa de Abreu, claro. O golpe está em curso, o governo Dilma agoniza — e a Globo e seu principal apresentador podem agora posar de isentos e democráticos.

O que são parcos 30 minutos para um lado perto do massacre diuturno, ao longo dos últimos meses, em cima de outro?

O que é meia hora comparada à cobertura obsessiva do PT, sempre pelo viés negativo, executada pelo Jornal Nacional, pela Globo News, pelo Jornal da Globo e por um exército de colunistas falando, todos, a mesma coisa?

Faustão, que de gordo de anedota transformou-se em vítima amarga de operação bariátrica, se jactava de conceder espaço para a “liberdade de expressão”, como bem notado no Viomundo.

Num determinado momento, fez questão de registrar que Ary Fontoura havia estado lá dizendo o contrário do que dizia José de Abreu.

Mas esse é Faustão, o maior salário da TV nacional, que repetiu ad nauseum uma papagaiada pretensamente apartidária sobre “corrupção”, os “cafajestes”, os “picaretas”. O Brasil é “o país da babaquice”. Etc.

Com uma ou outra exceção, como a participação de Marieta Severo, o Domingão, um dos maiores lixos da televisão mundial, serviu como palanque para a deseducação e a desinformação.

É o crime perfeito. José de Abreu mandou muito bem. Mas fica como prova de que a Globo é plural e defensora intransigente da livre expressão de seus funcionários e da democracia.

Mais um 7 a 1 no placar.