O Ditador Perfeito

Atualizado em 23 de julho de 2012 às 19:48
Sacha Baron Cohen como O Ditador

 

Em tempos especialmente complicados para ditadores no mundo árabe, é  extremamente atual uma reflexão do escritor inglês Somerset Maugham feita no livro “Férias de Natal”, de 1939. Maugham, pela boca de um personagem, descreve o “ditador perfeito”.  Repare. De Mubarak a Assad, de Ben Ali a Gaddafi, nenhum dos homem que dominaram a Arábia se enquadra nas exigências de Maugham para que um ditador possa ser considerado perfeito …

 

Um ditador deve exercer uma espécie de prestígio místico, de modo a provocar em seus adeptos um fanatismo religioso. Deve ser dotado de uma força magnética que lhes faça considerar um privilégio dar a vida por ele. É preciso que sintam dilatar-se neles sua própria existência.

 Abraham Lincoln disse: “Pode-se enganar parte do povo durante todo o tempo e todo o povo durante algum tempo, mas não se pode enganar todo o povo durante todo o tempo”. Mas é precisamente isto o que um ditador tem que fazer: enganar todo o povo durante todo o tempo, e só há um meio de conseguir tal coisa: enganando a si mesmo.

 Nenhum ditador possui um cérebro lúcido e lógico. Tem dinamismo, força, magnetismo, sedução, mas examine as suas palavras com atenção e verá que sua inteligência é medíocre. Ele sabe agir porque é conduzido pelo instinto, mas logo que se põe a pensar, embaralha-se.

Temos como exemplo Djerjinski, o chefe da Tcheka e o verdadeiro senhor da Rússia. Tinha poderes ilimitados sobre a vida do povo inteiro. Era monstruosamente cruel. Prendeu, torturou e matou milhares e milhares de pessoas. Sua família possuía terras na Polônia desde o século XVII. Djerjinski era um homem culto e muito lido.

Lênin e a Velha Guarda fizeram a Revolução, mas sem Djerjinski ela seria esmagada dentro de um ano. Ele compreendeu que só se podia salvá-la pelo terror. Solicitou o cargo que lhe dava a direção da polícia e organizou a Tcheca. Converteu-a num mecanismo repressor que operava com a precisão de uma máquina perfeita. Não consentiu que o amor ou o ódio tolhessem o cumprimento do dever. Sua atividade era prodigiosa. Assinou de seu próprio punho milhares de sentenças de morte.

 Vivia com uma simplicidade de espartano. Sua força lhe vinha do fato de não desejar nada para si. O único fim a que visava era servir à causa da Revolução. E tornou-se o homem mais poderoso da Rússia. Era a Lênin que o povo adorava e aclamava, mas quem governava era Djerjinski. Este sim era o ditador perfeito.