Corrente, martelos, barras de ferro e pedaços de pau utilizados como armas. Briga entre torcidas organizadas? Guerra de gangues de rua? Não. Um diretor de escola, o filho dele, um instrutor-mediador e “pais de alunos não identificados” aterrorizando estudantes da Escola Estadual Dep. João Doria, na zona leste.
Na última terça-feira (dia 15) uma orientadora telefonou para vários pais e professores convocando-os para uma reunião na escola com o propósito de dissolver a ocupação que há cerca de um mês é mais uma das muitas que protestam contra a reorganização escolar proposta pelo governo Geraldo Alckmin.
Na hora marcada, os estudantes que já tinham sido avisados do plano estranharam a ausência de pais de alunos e notaram a presença de pessoas estranhas em companhia do diretor da instituição, Ranieri Ribeiro Rabelo, e do mediador da escola, Claudionor. Resolveram trancar o portão e a partir daí ocorreu a barbárie que pode ser vista no vídeo.
Enquanto filmava, Guilherme Lima Pereira, aluno do 3º ano do ensino médio quase teve seu celular sequestrado pelo diretor Ranieri e acabou agredido com uma corrente. O professor Alan buscou interceder e levou um soco de Claudionor.
Vamos recapitular: Ranieri é o diretor da escola e Claudionor é o “mediador de conflitos”, nomeado pela direção e não pelos alunos. O outro homem extremamente violento e que fez diversas ameaças aos jovens é o filho de Ranieri.
O que teria acontecido se tivessem conseguido invadir, armados e irados? Como pessoas com esse grau de desequilíbrio podem estar em cargos voltados para educação de jovens? Qual o exemplo que um diretor desses quer passar?
Segundo os estudantes, o diretor Ranieri não teve um surto eventual. Seu comportamento normal é o de assédio moral. “É o tal negócio, quem quer respeito deve respeitar e ele não faz isso. Agride verbalmente, ofende o tempo todo”, disse Kemilly Correa aluna do 1º ano do ensino médio. Depois do ocorrido, o diretor não repetiu a dose mas tem feito rondas intimidatórias diariamente.
Quando visitei a escola neste sábado, o professor agredido não estava e o aluno Guilherme deixou a ocupação depois do episódio, proibido por seus pais que temem por sua integridade física.
Em suma, alunos que procuram fazer parte da escola de uma forma mais abrangente que a de simples rebanho bovino, que sabem de seus direitos e querem exercê-los, são impedidos de fazê-lo pois correm risco de serem atacados pelo diretor. Quem ele pensa que é, o dono da escola? “Sim, ele diz ‘Vou tirar vocês daí, a escola é minha’. Ele se intitula dono da escola e isso é um processo histórico no ensino público. Diretores e até alguns professores pensam assim, são raras as exceções”, diz um apoiador da ocupação que não quis se identificar.
O diretor Ranieri Ribeiro Rabelo mostrou-se além de um potencial psicopata, alguém completamente desconectado com o desenrolar da questão. Sua noção de timing é tão débil quanto seu equilíbrio emocional. Menos de dois dias depois de seu ataque de fúria, a justiça acolheu os pedidos da Defensoria Pública e do Ministério Público de São Paulo e suspendeu a reorganização escolar para 2016.
Com isso, o Comando das Escolas em Luta divulgou um comunicado informando que as ocupações já cumpriram sua função e portanto seriam desmobilizadas conforme os critérios e expectativas de cada unidade. O que poderia ser um início de trégua transformou-se, depois do atentado do diretor e seus capangas, num recrudescimento da ocupação do João Doria cujos alunos decidiram que agora manterão a trincheira até que Ranieri seja exonerado. “Ele e toda a direção que armou isso”, complementou Kemilly.
Há consenso entre psiquiatras e psicólogos que quem sofre abusos na infância tem uma propensão gigantesca para tornar-se um adulto violento e repetidor dos mesmos abusos. Que tipo de abuso essas pessoas, que deveriam ser exemplo para os jovens, terão sofrido para agirem daquela forma?
Infelizmente a agressão praticada por aqueles irresponsáveis sanguinários não só é uma violência com consequências imediatas, como futuras. O abuso sempre transforma a vítima. E não é para o bem.