
Por Ruy Nogueira
Quando em meados dos anos 2000 resolvi deixar meu apartamento no feérico bairro dos Jardins pela suavidade de Higienópolis, o primeiro interessado no bom imóvel onde vivia disse à corretora que ele era “pequeno”.
Curioso e divertido, imediatamente perguntei quem era o milionário que desdenhava um imóvel da célebre construtora Adolpho Lindenberg, numa esquina da Rua Oscar Freire com a Alameda Ministro Rocha Azevedo, com 3 salões, uma sala de almoço, imensa cozinha, biblioteca/escritório, três suítes, uma suíte para a criadagem, três vagas na garagem.
Lá viviam meu querido amigo, o falecido Junqueira Vilela, um dos maiores fazendeiros do país, a Condessa italiana Irma Fenólio, dama encantadora, o querido Professor Gama, grande cirurgião plástico (“meu melhor aluno”, dizia mestre Ivo Pitanguy), além do presidente da FIAT. O condomínio provocava um furo nos meus bolsos, mas era impecável.
Dona Helena, a corretora, informou-me, um pouco envergonhada, que era “um homem muito antipático, que falava como o Clóvis Bornay”, mas sem a graça e o charme do mítico carnavalesco.
Era o embaixador Sérgio Amaral, homem de confiança do sátrapa FHC, e que de maneira discretíssima “visitou” cofres importantes da República: foi presidente do conselho do BNDES, Ministro da Indústria e Comércio e porta-voz do desgoverno tucano. Cuidou das gordas verbas de publicidade do governo federal, quando foi cortejado pelas grandes agências de propaganda.
Entregou a milionária conta da Caixa Econômica Federal ao mais improvável dos amigos que poderia ter feito na publicidade brasileira: Agnelo Pacheco. Decadente, cafona, jogador compulsivo, profissional de baixa qualidade, caráter duvidoso, mas conhecido pelo detalhe fatal: tinha o botãozinho de divisão em sua maquininha de calcular (e corromper).
O fleumático e pernóstico Embaixador virou amigo de infância do publicitário picareta. Juntos, mudaram a imagem institucional da Caixa, a sua marca. Operação desnecessária de centenas de milhões de reais.
Agnelo já era desimportante antes de morrer e de gastar nos cassinos mundo afora a maior parte do que tomou dos cofres públicos. Hoje foi a vez do Embaixador que não era Bornay. Virou purpurina. Mas purpurina riquissíma!