
O governo Lula está adentrando o perigoso terreno da galhofa, na imortal definição de Stanislaw Ponte Preta (1923-1968).
A chamada diplomacia ativa e altiva derrete ao sol, num momento decisivo em que o país deveria ter voz soberana diante do massacre sionista sobre os palestinos.
Israel chantageia o país com 34 reféns mantidos na faixa de Gaza e o governo federal não apenas se dobra, como franqueia nosso território para ação do Mossad, o temível serviço secreto israelense.
Em comunicado oficial, o governo Netanyahu disse o seguinte, nesta terça-feira (8): “O Mossad agradece às autoridades brasileiras por seu papel na prisão da célula terrorista operando sob ordens do Hezbollah, que pretendia lançar um ataque contra alvos da comunidade judaica no Brasil”.
Opa! Como é? Uma força estrangeira dirigiu a Polícia Federal para uma ação de seu interesse dentro do Brasil. Gravíssimo!
Algumas questões devem ser levantadas:
1. Goste-se ou não – e eu não gosto – o Hezbollah é um partido político originário do Irã e que participa do governo e do parlamento libanês. Disputa eleições democraticamente. Falar em célula terrorista do Hezbollah é forçar a mão. A não ser que adotemos a doutrina Moro: “Não tenho provas, tenho convicção”;
2. O Irã acaba de entrar para o BRICS. A troco de quê fomentaria “ações terroristas” num país com quem mantém boas relações?;
3. O Brasil possui a maior colônia libanesa fora de seu país natal, algo entre 7 e 10 milhões de pessoas. Com que intenções um partido desse país praticaria atos terroristas aqui?
4. Até agora, não há nenhuma indicação pública de que a ação Mossad-PF parta de pressupostos sérios.
No entanto, o ministro da Justiça Flavio Dino apressou-se em escrever uma nota na primeira hora desta quinta-feira (9):
1. “O Brasil é um país soberano. A cooperação jurídica e policial existe de modo amplo, com países de diferentes matizes ideológicos, tendo por base os acordos internacionais”.
2. “Nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal do Brasil. E nenhum representante de governo estrangeiro pode pretender antecipar resultado de investigação conduzida pela Polícia Federal, ainda em andamento”;
(…)
8. “Quando legalmente oportuno, a Polícia Federal apresentará ao Poder Judiciário do Brasil os resultados da investigação técnica, isenta e com apoio em provas analisadas EXCLUSIVAMENTE pelas autoridades brasileiras.”
A ênfase do ministro não prova nada. Não contesta o que Israel afirmou e nem explica que ameaça terrorista seria essa. Aparentemente estamos diante de um exuberante pastel de vento diversionista em meio ao terrorismo – esse sim! – de Israel.
Para encaixar a peça que faltava, o embaixador de Israel, Daniel Zonshine, que sabe estar lidando com pusilânimes do outro lado da linha, afirmou na terça:
“Se escolheram o Brasil é porque tem gente que os ajuda”.
O governo brasileiro vê a provocação, aceita que o representante sionista desfile com Bolsonaro por Brasília, passa recibo e faz cara de paisagem.
Adentramos com determinação o terreno da galhofa. Para um país cujas forças armadas são comandadas pelo Comando Militar Sul dos EUA e que chama militares do Império para fazer exercícios na Amazônia, tá tudo precificado, como dizem no mercado financeiro.