O empenho de Dallagnol em defender o indefensável para proteger Bolsonaro. Por Luis F. Miguel

Atualizado em 22 de fevereiro de 2023 às 9:34
Sergio Moro e Deltan Dallagnol

Principal cúmplice de Sérgio Moro na Lava Jato, Deltan Dallagnol também foi o espertalhão que bolou os maiores planos para “monetizar” a operação de perseguição a Lula e ao PT.

Para não incorrer em injustiça, temos que reconhecer dois méritos em sua trajetória. Primeiro, deu uma contribuição maior ao folclore da política brasileira ao protagonizar a vexatória exibição do PowerPoint das bolinhas azuis.

Segundo (e mais importante), ajudou a aprimorar o Minha Casa Minha Vida. A nova versão do programa tem dispositivos para impedir a ação de atravessadores como Dallagnol – que, embora recebesse um alto salário, comprou imóveis destinados ao público de baixa renda, para especular e ganhar mais um troco à custa dos pobres.

Os dois episódios bastam para defini-lo como alguém desqualificado intelectual e moralmente. Eleito deputado federal, é um destaque negativo num Congresso em que não faltam embusteiros e nulidades.

Tive a infelicidade de assistir a um trecho de sua “entrevista” ao Pânico, o trecho que está circulando nas redes – “entrevista” entre aspas, porque os pretensos entrevistadores estão ali só para dar palanque a Dallagnol.

Ele disse – e a cara nem tremia – que Bolsonaro não pode ser preso porque falta um “fato concreto”. Ele, o homem das bolinhas azuis, que fez de tudo para colocar Lula na cadeia com base em especulações, falácias, falsificações e boatos que ele mesmo sabia que eram mentirosos.

Dallagnol ainda teve a coragem de dizer que “pode ter tido uma má gestão da pandemia” – e acrescentou: “não estou falando que sou a favor ou contra”. Bacana, ele não sabe se é a favor ou contra a má gestão da pandemia. Mas, continuou o espertalhão de Pato Branco, “má gestão não é crime”.

Em alguns casos, é, sim. E, no caso de Bolsonaro, a “má gestão” foi fruto de negligência deliberada, manipulação de informações, má fé e corrupção. Tem bastante crime aí. Para ser julgado com provas, mais do que com convicções.

Dallagnol é a cara da direita brasileira. Uma direita cínica, de poucas luzes, desonesta, interesseira, desprovida de qualquer empatia, dissociada do povo do seu país.

Ele se veste como um faria limer, usa o jargão jurídico ainda que falhe na lógica elementar, se faz de moderado. Mas seu bolsonarista interior está sempre pronto a aparecer. Seu empenho em defender o indefensável para proteger Jair é significativo.