O empresário Sadi Gitz e o reitor Cancellier: vítimas de um Brasil que sucumbiu ao absurdo. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 4 de julho de 2019 às 19:18
O empresário Sadi Gitz, da Escurial. Foto: Prefeitura de Aracaju

O empresário Sadi Paulo Castiel Gitz cometeu suicídio na manhã desta quinta (4) durante o Simpósio de Oportunidades para o Novo Cenário do Gás Natural em Sergipe.

No evento estavam presentes o governador do estado, Belivaldo Chagas (PSD), e o ministro das Minas e Energia do governo Bolsonaro, Bento Albuquerque.

Dono da indústria Escurial Revestimentos Cerâmicos – que possui o gás como um dos seus principais insumos de produção – Gitz foi mais um dos empresários brasileiros que decretaram falência após a tragédia econômica em que o país foi lançado como resultado do inconformismo dos derrotados das eleições de 2014.

Os esforços empreendidos pelas forças reacionárias desse país a partir dos primeiros minutos após a confirmação da vitória da presidenta Dilma Rousseff, em outubro de 2014, para que o Brasil paralisasse, gerou consequências devastadoras para todo o conjunto da economia brasileira. E não só.

As ilegalidades processuais que se seguiram, primeiro para a derrubada de uma presidenta legitimamente eleita, depois para decretar a prisão do principal candidato à sucessão de Michel Temer, beneficiário imediato do golpe, não só aprofundaram a crise como embalaram toda a nação num terrível invólucro de insegurança jurídica.

Uma vez imerso o país num mar revolto de intolerância política, paralisia econômica e desmoralização institucional, o que restou como a nova normalidade nacional foi o esfacelamento contínuo dos nossos fundamentos econômicos, a acusação leviana e persecutória dos “inimigos” da “moral e dos bons costumes” e a ilicitude generalizada.

O desfecho do que se transformou o Brasil não poderia ser outro.

O desalento daqueles que foram atingidos diretamente pela irresponsabilidade dos que preferiram jogar o Brasil inteiro na fogueira à respeitarem o resultado do processo democrático trouxe consequências aterradoras ao ponto de alguns chegarem a esse trágico fim.

Exemplo indissociável de tudo isso foi o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo.

Alvo do Estado policialesco que se transformou o país na esteira da operação Lava Jato e dos crimes cometidos pelo então juiz Sérgio Moro e, agora podemos afirmar nesses moldes, seus procuradores, Cancellier se viu de tal forma humilhado e injustiçado que preconizou o que agora vemos acontecer com Sadi Gitz.

Ambos inocentes, suas vidas foram destruídas e seus destinos foram selados por duas faces de uma mesma moeda.

As forças que ao mesmo tempo destruíram a indústria brasileira e jogaram o próprio Poder Judiciário para a marginalidade são responsáveis diretos pelas tragédias que dizimaram as esperanças de dias melhores não só desses dois brasileiros especificamente, mas de milhões de tantos outros.

Cancellier, um educador, e Sadi Gitz, um empresário, sem se conhecerem e com realidades completamente diferentes, foram vítimas iguais e congêneres de um Brasil que sucumbiu ao absurdo.

Até quando? E quantos mais?