O ensaio para alguma coisa maior. Por Moisés Mendes

Atualizado em 31 de maio de 2020 às 22:20

Publicado originalmente no blog do autor

Por Moisés Mendes

Os ventos sopram de todos os lados, principalmente dos Estados Unidos. Tivemos um domingo de gestos inspiradores para o nosso combalido otimismo. Aqui, foram duas inspirações poderosas.

A primeira veio das manifestações dos jovens antifascistas em São Paulo, Rio e Porto Alegre. A segunda, da nota em defesa da democracia do ministro Celso de Mello. A juventude e a maturidade se complementaram hoje.

Os protestos em São Paulo, Rio e Porto Alegre tiveram o que andava faltando, o vigor dos jovens em grupos mais encorpados, e não em turmas corajosas mas numericamente minguadas que vinham aparecendo nas ruas.

Os valentes antifascismo, que completaram o quinto domingo nas ruas de Porto Alegre, ganharam reforço. O que se viu foi vigor físico mesmo, a capacidade de gritar mais alto, de impor presença nas ruas, de desafiar a repressão, como eles fizeram na Paulista. E o que é melhor: muitos são jovens que se identificam como torcedores antifascistas.

O espaço das ruas será sempre deles. Não há rebelião sem jovens, nem democracia, nem resistência. A identificação com o futebol pode ajudar no contraponto ao reacionarismo que domina o meio, inclusive nos vestiários.

Em São Paulo, ficou claro que a provocação começou com uma mulher bolsonarista, que tentou se aproximar do outro grupo, e que a partir daí a Polícia Militar passou a reprimir os antifascistas. Em Porto Alegre, a BM também protegia os bolsonaristas. Nenhuma novidade.

Acompanhei a transmissão ao vivo de Alass Derivas em Porto Alegre, que no começo mostrava uma turma pequena, na Sete de Setembro, no centro, mas de repente o grupo cresceu. Já na dispersão, em direção a Riachuelo, a marcha foi sendo engrossada e ficou de bom tamanho.

E isso tudo em meio a uma pandemia. Estou entre os que finalmente admitem (e resisti muito a pensar assim) que, sem a pandemia, algo maior poderia estar acontecendo.

É provável que os próximos fins de semana tenham manifestações de impacto, se é que não acontecerão protestos mais fortes antes.

E o domingo teve ainda a sabedoria expressa na nota de Celso de Mello em que o ministro adverte: está tudo pronto para a instalação de uma ditadura de índole nazista (a íntegra está na postagem anterior).

Que a nota do decano do Supremo, que é também um apelo pela resistência, inspire outras manifestações, inclusive entre os próprios ministros, muitos dos quais calados há meses.

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Descobriremos daqui a pouco que tudo isso é apenas um filme, é a continuação de Borat.

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Jadon Sancho fez três gols hoje na vitória por 6 a 1 do Borussia Dortmund contra o Paderborn. Este que ele mostra na foto foi seu quarto gol, o mais bonito de todos.

Na Alemanha, um jogador negro inglês pede justiça pelo assassinato de um negro nos Estados Unidos.

Veremos algo parecido um dia no Brasil?

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/