O especial de Roberto Carlos é o símbolo da ressaca do Natal e do autismo dele e da Globo

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:18

roberto carlos

 

Um espectro ronda o fim de ano: o espectro do especial de Roberto Carlos.

Enquanto Justin Bieber, a criança mais chata do show bis, anuncia sua aposentadoria, Roberto continua firme numa atração que, se depender dele, deve durar até o fim dos tempos.

Rumando para a edição número 40, o programa é símbolo de duas coisas, uma ancestral e outra moderna: a ressaca do dia 25; a irrelevância, hoje, dele e da Globo. No ano passado, RC marcou 28 pontos de média no Ibope, batendo em 10 nos piores momentos. Em 2000, chegou a mais de 40.

É como assistir a um funeral em praça pública. Um cantor de 72 anos fazendo o mesmo de sempre, cantando as mesmas coisas de sempre, para um público que diminui e diminui. E ainda com a exposição de suas manias e do TOC.

De acordo com a Folha, ele queria um clima de Oscar. Encanou com a cacofonia do nome do lugar onde haverá a gravação, a Cidade das Artes (“das ar”, “azar”). Queria entrar de carro no palco, como acontece em alguns de seus shows, o que não foi possível porque não há acesso no teatro.

Erasmo Carlos apareceu de preto, com seu figurino tiozinho Harley Davidson. Roberto, como se sabe, só admite o azul ou o branco. Erasmo explicou que não tinha outra roupa. Ganha uma calça Tremendão quem acreditar nisso. Erasmo deu uma trolada bonita no amigo.

Ele receberá convidados como Lulu Santos, Tiago Abravanel, Anitta e a atriz Tatá Werneck, além dos DJs que fizeram “Remixed”, uma coletânea de versões emasculantes de hits de RC, pretensamente lançada para uma audiência mais jovem.

Todo artista tenta se rejuvenescer. É uma questão de sobrevivência.  RC já tem mais de 50 anos de estrada e, se ainda dependesse somente das ex-adolescentes dos anos 60, estaria frito. Mas o que seu programa mostra, vivamente, é um artista caquético de corpo e espírito. Uma espécie de Norma Desmond, a ex-estrela do cinema mudo de “Crepúsculo dos Deuses”, que tinha um chimpanzé para lhe fazer companhia e vivia num mundo à parte. “Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos”, dizia ela, em sua piração decadente.

A única razão para ver o especial de Natal de RC é testemunhar o fim de um mundo. Agora, mesmo para isso, teria de ser um final apoteótico, algo que valesse a pena. Não é. Uma sugestão seria ele anunciar sua aposentadoria. Como isso não vai ocorrer, o programa vai minguar lentamente até que o último chimpanzé se lembre de que tem mais o que fazer e desligue a televisão.