O esquerdista Luxemburgo e a oportunidade do Palmeiras resgatar sua história: um dos fundadores era anarquista

Atualizado em 15 de dezembro de 2019 às 21:20
Luxemburgo e Ezequiel Simoni

Uma brisa de ar fresco no Palmeiras: Luxemburgo volta ao clube depois de dez anos. É um treinador de ponta, que já dirigiu o Real Madri, na época dos galácticos Zidane, Ronaldo Fenômeno e David Beckham. No Palmeiras, foi treinador de um time lendário, que fez 102 gols num Campeonato Paulista. Naquela temporada, por mais de uma vez, o Palmeiras venceu por 8 a 0.

Luxemburgo também foi campeão no Santos, Cruzeiro e no Corinthians — o time corintiano que conquistou o Mundial em 2000 foi montado por ele. Será a sua quinta passagem pelo clube, e ele reúne condições para fazer bem não apenas ao clube, mas à sociedade.

Nestes tempos de acirramento político, ele teve coragem de manifestar apoio a Lula, que ele conhece bem, pois já trabalhou com o filho do ex-presidente, que é preparador físico. Foi até o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no dia em que Lula foi preso.

Não se escondeu, ao contrário de muita gente.

Mais tarde, em entrevista a Rica Perrone, se declarou homem de esquerda e explicou a origem do seu nome.

“Eu continuo sendo um cara de esquerda por origem, por ideologia, porque o nome da minha mãe é Rosa Luxemburgo da Silva em homenagem à polonesa marxista Rosa de Luxemburgo. Meu avô era do Sindicato dos Ferroviários, foragido. Meu pai era gráfico, foragido. Na época da ditadura. Eu fundei o diretório acadêmico na minha universidade. Eu sou de esquerda porque acho que a democracia tem que prevalecer”, contou.

Disse mais: Falou que Sergio Moro não é herói coisa nenhuma. “É um juiz de primeira instância que jogou nossa Constituição no lixo”.

Era julho de 2018 quando essa entrevista foi publicada, mês em que Bolsonaro despontava como segundo colocado nas pesquisas. O primeiro era Lula, disparado.

Na rede social, foi muito criticado pelas declarações e alguns anunciaram que estava morto para o futebol.

“Pofeso, volta pro buraco, nem a quarta divisão te dá emprego, kkkk”, declarou um.

“Bolsonaro 2018! Espero que esse cara entenda um pouco de futebol, pq de politica…”

Em 2019, Luxemburgo foi para o Vasco e reergueu um time que estava na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Agora, confirma que dirigirá um dos clubes financeiramente melhor estruturados do Brasil.

“Vamos trabalhar bastante. Tem uma frase que diz que nada resiste ao trabalho”, comentou ele.

Recentemente, quando Jair Bolsonaro visitou o Vasco, Luxemburgo lhe entregou uma camisa do time. Mas dificilmente faria como Luís Felipe Scolari, que, como técnico do Palmeiras, bateu continência para Bolsonaro e depois, em entrevista, recomendou que todos os brasileiros o obedecessem.

O Palmeiras teve quatro italianos que são considerados fundadores do Palmeiras — Luigi Cervo, Vicencenzo Ragognetti, Ezequiel Simoni e Luigi Marzo.

Todos tinham menos de 39 anos. Luigi Cervo era funcionário de confiança de um grande capitalista, Conde Francesco Matarazzo, admirador e patrocinador de Mussolini na Itália.

Já Ezequiel Simoni era anarquista, autor de livros relacionados às causas operárias. Por ser o mais velho dos quatro, presidiu a assembleia inaugural, razão pela qual alguns historiadores do clube consideram que ele foi o primeiro presidente.

Luxemburgo tem lugar na história do clube, e representa uma esperança de que o Palmeiras se reconcilie com suas origens de pluralismo e democracia.