Destaques

O Estadão e a falta de um espelho retrovisor para a História

Ex-juiz Sérgio Moro
Foto:  Andre Coelho

Por Lenio Streck, Marco Aurélio de Carvalho e Fabiano Silva dos Santos, coordenadores do Grupo Prerrogativas
​​​
Em editorial publicado no dia 24 de maio, sob o titulo “O PT sendo o PT”, o Jornal O Estado de São Paulo critica a ação popular movida por advogados do partido contra o ex-juiz Sérgio Moro. Critica, também, os advogados dos autores – deputados – dizendo que a ação popular deve ser inquinada de litigância de má-fé (sic).

Assim como toda a grande imprensa, o Estadão também ainda deve muitas explicações à sociedade pelo que ocorreu na recente história que culminou com a eleição de um presidente que, dia sim e outro também, ataca a democracia.

Aliás, o Estadão tem feito cálculos históricos equivocados. Mais recentemente, apostou na Lava Jato e no Impeachment da Presidenta Dilma. Deu no que deu. Do lavajatismo nasceu a antipolítica. Da antipolítica nasceu Bolsonaro e o bolsonarismo. E daí o caos. Denunciado pelo próprio Estadão.

Só aí já deveria haver uma autocrítica. Uma mirada no retrovisor da história. Não existiria toda essa confusão se o ex-juiz Sérgio Moro tivesse sido um juiz de direito imparcial, e não um (mau) político travestido de magistrado.
Moro já foi condenado até mesmo pela ONU. Seus processos, como um dominó epistemológico, caem um a um. Por quê? Porque foram conduzidos da forma que nenhum juiz deve fazê-lo: parcialmente.
Além de tudo, Moro atuou em juízo incompetente. Tudo isso está transitado em julgado, hoje. Os processos contra Lula – para falar apenas destes – viraram pó.

E não se diga que Lula não foi inocentado. A Constituição garante que qualquer pessoa que não tenha processos contra si é inocente. Mais: as anulações não impedem a continuidade de processos. Pois é. E onde foram parar? Todos extintos. Por serem inexistentes. Por quê? Porque o então juiz Sérgio Moro atuou como acusador, como policial. Só não agiu como juiz. Moro é responsável pela tragédia que assola o país.

A Ação Popular movida contra ele, que, aliás, já tramita na justiça federal, apenas mostra o valor dos prejuízos causados por um mau juiz. Mau juiz esse que jornais como o Estadão esqueceram de criticar. Ao contrário.
O que a ação popular pretende é colocar na mesa da história os protagonistas do verdadeiro prejuízo não apenas para a indústria nacional, como também para a cultura jurídica e democrática. Moro atuou na desinstitucionalização da política e da democracia.

Não há nada de “litigância de má-fé”. Existem dados fáticos e substância jurídica que apontam para a responsabilidade do ex-juiz. Que parece já ter defesa, sendo que, neste momento, um editorial a seu favor, mesmo que a contrario sensu, só serve para mostrar como o Brasil não consegue olhar para dentro de si.
Não adianta, por outro lado, tratar o tema “Lava Jato e Moro” com orações adversativas. Algo como no presente editorial “Moro pode ter cometido muitos erros (…) que já foram apontados pelos STF e STJ”. Só que, então, vem o “mas”. Isto é, anula-se a afirmação anterior. Ora, se Moro cometeu erros (sic) e já foram sancionados pelos Tribunais, como Moro pode não ser responsabilizado? Em que sentido uma ação popular contra Moro é algo “de campanha política”?

Um juiz que, ao contrário de qualquer bom magistrado, em vez de processar as pessoas físicas, faz de tudo para quebrar a empresa maior do Brasil – além de tantas outras – , a ponto desta ter de pagar multas milionárias ao mesmo tempo em que era a vítima (lembremos da malsinada Fundação que Dallagnol tentou fazer e foi chumbada pelo STF), não pode escapar impunemente.

Mais do que cobrar a responsabilidade de Moro, a ação popular quer resgatar a dignidade da justiça brasileira. No retrovisor da história aparecem os “grandes feitos” de Moro. Um bom espelho ajuda ao país. Aliás, andar sem o retrovisor dá multa. A história cobra caro.

Clique aqui para se inscrever no curso do DCM em parceria com o Instituto Cultiva

Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link

Diario do Centro do Mundo

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Diario do Centro do Mundo

Recent Posts

Empresário da Porsche que matou motorista de app é denunciado por homicídio doloso e lesão corporal

O Ministério Público de São Paulo denunciou Fernando Sastre de Andrade Filho, 24 anos, por…

3 minutos ago

Operação Mensageiro prende prefeito e vice de cidade em Santa Catarina

A 5ª fase da Operação Mensageiro, deflagrada nesta segunda-feira (29), resultou na prisão do prefeito…

16 minutos ago

Pais de aluna acusada de racismo contra filha de Samara Felippo retiram da escola

Os pais de uma das alunas que foi suspensa por tempo indeterminado da escola particular…

23 minutos ago

Número de mortos na guerra em Gaza chega 34.488 anuncia Hamas

O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, governada pelo grupo palestino Hamas, anunciou nesta…

3 horas ago

Socialite conta como foi passar 10 anos em um cativeiro de luxo: “Estava puro osso”

A socialite Regina Gonçalves, de 88 anos, afirma que foi mantida em cárcere privado por…

3 horas ago

Petistas querem sinalização de Lula favor da cassação de Moro; entenda

Líderes do Partido dos Trabalhadores (PT) pressionam para que o presidente Luiz Inácio Lula da…

3 horas ago