O estrago que Vélez e olavistas causaram no MEC levará 50 anos para ser consertado. Por Donato

Atualizado em 27 de março de 2019 às 12:01
O ministro Ricardo Vélez | Divulgação/MEC

Incapaz de chefiar seu ministério, por que Ricardo Vélez Rodríguez não cai? Elementar: sua permanência significa que o grupo ligado a Olavo de Carvalho que atua dentro do MEC ainda tem interesse que ele ali esteja. Um chefe fraco e desorientado pode ser extremamente vantajoso.

A mais nova demonstração de força do grupo foi a demissão do presidente do INEP, Marcos Vinícius Rodrigues, que é ligado aos militares.

O furdunço já é conhecido: Marcos Vinícius publicou na segunda-feira uma portaria suspendendo a avaliação de alfabetização, Vélez disse que foi pego de surpresa, que não tinha sido informado e no dia seguinte revogou a portaria.

No mesmo dia Marcos Vinícius caiu.

Parêntese: Vélez tomou bola nas costas duas vezes só nesse episódio, pois o pedido para que a portaria fosse publicada partiu de dentro do próprio ministério.

Quem ordenou? Carlos Nadalim, um olavista que vem a ser exatamente o Secretário de Alfabetização. Como já sabemos, apenas o presidente do INEP foi demitido.

Na casa da mãe Joana que se tornou o MEC, pau que bate em Chico não bate em Olavo.

Marcos Vinícius Rodrigues saiu atirando: afirmou que Vélez é “gerencialmente incompetente” e “não tem controle emocional para comandar a Educação”.

Só ele e as torcidas de Corinthians e Flamengo perceberam isso.

“A desarticulação no MEC o deixa inoperante. O ministro não tem mais condições, ficou evidente que ele não tem perfil para o cargo”, declarou Priscila Cruz, do Movimento Todos Pela Educação.

O agora ex-presidente do INEP havia sido indicado pela ala dos militares do governo Bolsonaro. Já havia declarado inclusive concordar com a censura que Jair Bolsonaro pretendia exercer no exame do ENEM.

Sua demissão não foi barrada nem mesmo após o assunto ser levado à Casa Civil.

Em resumo: olavistas têm a palavra final no Ministério da Educação.

A barafunda que é o MEC na gestão Bolsonaro, com seus infinitos ‘recuos das revogações das reconsiderações’, já provocou 15 exonerações em pouco mais de 80 dias e coloca em risco um tema fundamental para o desenvolvimento de qualquer país.

Sem educação de qualidade não se chega a lugar algum. É a base para o desenvolvimento.

Mas o ministério está nas mãos de alguém que já quis emplacar livros didáticos sem compromisso com o politicamente correto e contendo erros bibliográficos, alguém que já chamou brasileiros de canibais que roubam assento de avião.

A incompetência na gestão pública traz sempre a brecha sonhada para medidas obscurantistas. Paulo Guedes tem na manga uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que desvincula o percentual obrigatório de investimento em Educação.

A Constituição exige que estados e municípios apliquem ao menos 25% de sua receita resultante de impostos e transferências. A União precisa investir 18%. A equipe econômica de Bolsonaro quer acabar com isso.

Essa obrigatoriedade só foi derrubada em dois períodos na história: durante as duas ditaduras (em 1937 e em 1967).

Ou seja, Bolsonaro e sua trupe de malucos farão com que a Educação retroceda em 50 anos, no mínimo.