O estranho caso do game em que os heróis são militantes de extrema direita. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 9 de novembro de 2015 às 10:31
Chose de loc
Chose de loc

 

Alexandre “Alex Roger” Rodrigues de Carvalho tem 34 anos e é morador de Vila Velha,no Espírito Santo. Vai passar uma temporada em Orlando, na Flórida, para criar seu segundo game antipetista. Em 4 de novembro, ele anunciou a campanha de crowdfunding para o jogo KorruPTus 2 – Operação Petrobras e quer arrecadar R$ 45 mil, pelo site Catarse, para executar o projeto focado para smartphones com sistemas iOS e Android.

Diretor da desenvolvedora AGW, Alex Roger lançou em agosto de 2014 o primeiro game KorruPTus com Dilma Rousseff, José Dirceu e Lula representando inimigos piratas que estão roubando o Brasil para ajudar Cuba. Para ele, a ideia era justamente passar a mensagem de que as pessoas não podiam votar novamente no Partido dos Trabalhadores durante as eleições presidenciais. Dilma foi reeleita naquele ano.

O desenvolvedor elencou como heróis o ex-juiz do STF Joaquim Barbosa, o deputado Jair Bolsonaro, a jornalista Rachel Sheherazade e até os black blocs. Ele disse que fez o game inspirado pelas Jornadas de Junho de 2013.

Agora resolveu fazer um game baseado na operação Lava Jato. Os novos heróis são o juiz Sérgio Moro, o militante Kim Kataguiri do Movimento Brasil Livre, João Revolta da TV Revolta e Marcelo Reis da fanpage de Facebook Revoltados On-Line. Fernando Henrique Cardoso também será um personagem do bem. A ideia do jogo é derrotar os petistas para supostamente combater a corrupção.

No ano passado, o game vendido a US$ 2 se tornou um dos 20 aplicativos mais baixados na App Store da Apple, o que certamente rendeu dinheiro para Alex Roger.

Agora, com KorruPTus 2, ele pretende destinar parte da arrecadação do crowdfunding para financiar os acampamentos do Kim Kataguiri pró-impeachment em Brasília, fazendo militância política.

O DCM foi conversar com Alex Roger para tentar entender qual é a desse jogo antipetista. Ele afirma que o videogame não teve financiamento de partidos políticos, mas admite que quer ajudar movimentos que tentam derrubar Dilma Rousseff do poder.

Como foi o desempenho do primeiro KorruPTus? 

A repercussão foi muito grande e ele chegou em 14º lugar na App Store quando seu vídeo foi produzido, há seis meses. O game ficou no top 1 encabeçando a categoria Games> Educacional por três meses. Hoje ele ainda está nos top 30 na mesma categoria na loja da Apple brasileira.

Kim Kataguiri, os Revoltados On-Line e outros movimentos pró-impeachment vieram te procurar para você fazer uma continuação do game ou você teve a ideia?

Nenhum grupo participou da criação do jogo, porque o projeto Operação Petrobras foi desenhado antes desses grupos. Eu fiz sim um contato com o Kim para pedir permissão do uso da imagem dele como herói. Ele me respondeu com carinho, dizendo exatamente o seguinte: “Adoro jogos e você tem toda a liberdade para usar a minha imagem nele”.

Como vai funcionar a taxa de 70% dos R$ 45 mil de crowdfunding para os acampamentos de protestos pró-impeachment?

Da distribuição dos 100% arrecadado no Catarse, 13% é a comissão do sistema, 17% para os prémios e 70% será destinado a metade para produção do mesmo e outra metade para o acampamento pró-impeachment.

Eu vi um vídeo do Marcello Reis no Facebook chamando a população para ajudar no acampamento, e imaginei o quanto está sendo difícil para eles. Então tive essa ideia, sem pedir permissão ou fazer qualquer comunicado. Eu fui lá e simplesmente fiz. Acredito que eles não fazem ideia de quem sou eu, e não me importo com isso!

Neste novo jogo, você diz que pretende utilizar o nome real dos políticos petistas acusados de corrupção e nem vai disfarçá-los. Você não teme processos judiciais?

Mesmo sem motivo, processos podem acontecer. É evidente que uma parte pode se sentir agredida nessa história e a democracia me permite fazer o que eu quiser aguentando as consequências. Mas não me impedirá de lançar o jogo, porque eu esperei esse momento para lançar o jogo e falo dele há quase um ano. Antes não existia nenhum político julgado e condenado no caso da Petrobras, agora existe e quem julgou não fui eu.

Mesmo se o político devolveu dinheiro roubado, agora eu posso chamá-lo de corrupto! Não é um julgamento meu e nem uma posição minha, porque a justiça o classificou assim e o condenou.

Você não acha que o KorruPTus é um jogo muito doutrinário politicamente? Pergunto isso porque parece que é uma forma de financiar os movimentos políticos anti-Dilma…

Ele não doutrina, ele apenas diverte e promove a discussão, assim como um vídeo do Porta dos Fundos quando fala de política. É utilizar a comédia não para informar, mas promover a discussão do tema. Essa foi a ideia do meu projeto. Tanto que a visão do que é vilão ou herói foi tirada dos discussões promovidas nas redes sociais.

Como será feita a crítica à Petrobras? Teremos os delatores Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró?

O jogo não terá criticas à Petrobras porque a empresa não cometeu nenhum crime. Só será mostrado o valor de mercado que perdeu em relação às investigações e a influencia do dólar. O cenário será em uma plataforma também, apenas como ilustração.

O partido de Jair Bolsonaro, o PP, foi um dos que mais ganhou propina da Petrobras, segundo a apuração da Polícia Federal. Ele ainda será um herói em KorruPTus?

O partido não cometeu nenhum crime, só alguns políticos que o compõem que sim. Na opinião da maioria das pessoas nas redes sociais ele é um herói, e estará nessa versão do jogo. Isso será ainda mais enfatizado.

Aécio Neves será um herói neste segundo game?

Isso ainda não está definido, porque ele já foi colocado e tirado diversas vezes no desenvolvimento.

Geraldo Alckmin é acusado de ter agravado a crise hídrica da Sabesp em São Paulo. Ele estará no game? Será herói?

Não definimos, pois o tema do jogo faz referencia a corrupção e não a má gestão. Quando o tema da seca da Sabesp teve notoriedade, cogitamos a possibilidade de fazer uma crítica superficial. Agora descartamos a ideia.

E José Serra e Fernando Henrique Cardoso? Qual será o papel dos dois no KorruPTus?

Fernando Henrique Cardoso será herói no jogo! Já o José Serra não foi nem considerado.

O valor de R$ 45 mil no crowdfunding é uma brincadeira com o número do PSDB?

Não e eu até me espantei com quando vi essa pergunta.  Esse valor é dos custos necessários para criar o game, apenas.

Eduardo Cunha será herói ou vilão no novo game?

Ele será parte da discussão que o jogo vai promover. O personagem dele pode estar em cima do muro no jogo. Cunha seria herói que tiraria proveito dos heróis.

Michel Temer é um vilão mais uma vez ou pode se tornar herói contra Dilma?

Talvez ele tenha uma passagem coadjuvante, assim como o papel dele no governo.

Desenvolver games é uma forma de derrubar o governo Dilma?

Quem me dera se pudesse derrubar. Mas é só um jogo e não derrubaria um mosca se fosse o caso. Eu tenho sim o meu lado na política e ele é anti-Dilma!

Por que o jogo será feito em Orlando, na Flórida e dentro dos Estados Unidos, e não no Brasil? 

Eu moro nos EUA há quase um ano e tenho outros negócios aqui.  A Central Flórida de Orlando é um polo de criação de games no mundo e tem seis grandes faculdades. Uma das maiores do setor, a Full Sail, fica aqui e é dona da Rede RedZero no Brasil.  Minha empresa AGW Global foi responsável pelo projeto “Make a Pixel”, que ensina crianças de seis a 12 anos a criarem jogos digitais, e hoje eu invisto no segmento de educação nesse espaço.

O que te atrai mais: ganhar dinheiro ou se expressar politicamente com o KorruPTus?

É a política que me atrai nele, mas o dinheiro veio mesmo sem ser o alvo. Eu também ganho em outros negócios.