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O estranho mundo de Sérgio Reis: por que o sertanejo é a trilha sonora do Brasil do gado bolsonarista

Bolsonaro em evento com sertanejos

Cada era tem sua trilha sonora.

O jazz nos chamados “anos loucos” do século passado (os roaring twenties), o rock nos anos 60, a bossa nova no Brasil de JK, o pagode dos anos 90 de Collor etc.

O “sertanejo universitário”, ou seja lá o rótulo que inventaram para um pop ordinário, embala o bolsonarismo.

No noite de sábado, 29, Bolsonaro participou, através de um vídeo produzido para a ocasião, da live de Gusttavo Lima.

Na gravação, ele aparece lamentando o cancelamento da Festão do Peão de Boiadeiro.

“Do fundo do coração, gostaria muito de estar ai”, falou o sujeito, que aproveitou para agradecer o apoio que sempre recebe dessa turma.

A dupla Bruno e Marrone, fãs da cloroquina, também defendeu o presidente em sua mais recente apresentação online.

“Eu falo do Bolsonaro porque ele é um cara honesto. E o que o Brasil estava precisando era de pessoas honestas para limpar essa ‘disgramaiada’ que tava ai, tudo roubando a gente”, falou Bruno.

Está no estudo “Política e fé entre os policiais militares, civis e federais“, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com a empresa de inteligência de dados Decode Pulse.

O levantamento analisou interações públicas de perfis de PMs, policiais civis e federais no Facebook.

Eles são fãs de sertanejo e Bolsonaro e odeiam a população LGBT+. O pacote completo.

Bruno e Marrone, Zé Neto e Cristiano, Gusttavo Lima, Henrique e Juliano, Matheus e Kauan, César Menotti e Fabiano et caterva — todos fazem propaganda de Jair Bolsonaro.

“Parabéns, Bolsonaro. Você tirou 10. Levando água para milhões de pessoas que dependem da transposição do Rio São Francisco”, disse recentemente o debiloide Gusttavo se referindo a uma obra de Lula e Dilma, metido num inexplicável calção 3 números menor.

Parte se deve à burrice desse pessoal, mas não só.

Eles vêm de lugares dominados pelo agronegócio, uma comunidade reacionária, e refletem o orgulho da ignorância em letras idiotas para um público igualmente tapado.

A música de corno, cujo protagonista costuma encher a lata, dá o tom.

Faz parte do negócio, uma vez que os patrocinadores são, na maioria, da indústria de álcool. Deus acima de tudo, Ambev acima de todos.

Lives de Gusttavo foram notificadas pelo CONAR por não seguirem as normas para a propaganda de bebida.

Não deu em nada.

As canções, na verdade jingles, têm nomes como “Bebi Minha Bicicleta”, “Cerveja”,  “Um Bêbado Incomoda”, “Alcoonteceu”, “Bar das Coleguinhas”, “Do Copo eu Vim” e por aí vai.

Marília Mendonça canta uma desgraça chamada “Bebaça”.

É apologia a uma droga legal.

Uma droga fazendo propaganda de outras. Metalinguagem, se preferir.

Bêbados saudando Bolsonaro entoando versos indigentes para o gado.

Depois é só meter o dedo na garganta, vomitar e começar tudo de novo na live seguinte. Talquei?

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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