“O fascismo nos empurrou para uma original clandestinidade: as redes”, diz Pedro Cardoso

Atualizado em 7 de julho de 2021 às 8:25
Pedro Cardoso

Em texto publicado no Instagram, Pedro Cardoso relatou sua ansiedade em relação às “redes antissociais” nos tempos do “nazifascismo tropical”:

Venho compartilhar pois percebo nos convívios aqui que muitos devem sentir o mesmo que eu.

Desde que a desonestidade da medíocre classe média baixa em busca de ascensão econômica, organizada em igrejas e quartéis, clubes e shows “sertanejos”, agremiações politiqueiras etc., deu o ar de sua graça, personificando-se no messias militar, eu acordo todos os dias ansioso pelas notícias e pela oportunidade de dizer alguma coisa em oposição à incivilidade desse nazifascismo tropical.

As pessoas com quem aqui convivo têm sido meus aliados, amigos de trincheira, ombros para o consolo desta solidão. Nunca antes a política havia sido assunto diário para mim. Passou a ser quando compreendi, num lento ir compreendendo, que a política, espaço para o entendimento sobre o que nos é comum, desapareceria sob o autoritarismo do bolsonarianismo; como está acontecendo.

Vivo, desde então, permanentemente ansioso. Escrever aqui é, antes de uma generosidade, um egoísmo saudável. Faz-me bem exibir a minha revolta. Dou-me a conhecer a mim mesmo mostrando-me aos outros.

Essa função narcísica das redes antissociais é, a meu ver, a razão de seu sucesso comercial. Mal não há mas haverá se a fala aqui não superar a histeria. Saudável, creio, é que das palavras passemos a ação devotada ao bem comum.

Mas, também penso: falar é agir.

Colegas aqui, falantes e ouvintes como eu, qual será a ação que nos projetará de nós para os outros?

Cada um saberá a sua. A minha, creio, é fazer teatro. Mas tentar chegar numa equação econômica que me ponha a serviço da maior parcela possível da população brasileira.

Nesse dia de ação, acho que já não estarei mais tão ansioso por falar todos os dias sobre política. Mas só haverá teatro se a política nos garantir a liberdade.

Até a liberdade, pela democracia, estar assegurada, prevejo que a ansiedade em exibir minha angústia vai me manter nas redes antissociais. E a muitos de nós.

O fascismo nos empurrou para uma original clandestinidade: as redes, onde mais nos expomos, são onde também nos escondemos.

Já estamos todos presos; presos a céu aberto no mundo deles.