O fascismo vai transformar paraísos em infernos. Por Moisés Mendes

Atualizado em 5 de novembro de 2022 às 8:48
O ministro do STF Luís Roberto Barroso no restaurante Blumenauense, em Porto Belo, no Litoral de Santa Catarina – Foto: Reprodução

Por Moisés Mendes 

O ministro Luis Roberto Barroso achou que Porto Belo seria o seu paraíso em Santa Catarina. Passa a ser o seu inferno.

Ministros do Supremo, políticos considerados inimigos pelo fascismo e celebridades de áreas diversas sofrerão muito se tentarem comer uma pizza em qualquer lugar.

Eles não terão paz nem em restaurantes de classe média ou de ricos, nem em botecos de beira de estrada. Serão vaiados e expulsos dos lugares.

Todos que a extrema direita identificar como inimigos terão de comer em casa ou nas casas de amigos.

Alguns, a exceção da exceção, ainda conseguirão frequentar lugares públicos em restaurantes de Brasília, que são o espaço de convívio de políticos de todas as ideologias.

Outros, muito poucos, conseguirão frequentar raros redutos das esquerdas, se é que ainda existem esses redutos de resistência nas médias e grandes cidades.

O resto todo, ou seja, a maioria viverá meses ou anos de inferno, como viveu na quinta-feira o ministro Luis Roberto Barroso ao ser expulso de um restaurante em Porto Belo, no litoral catarinense.

Barroso achou que descansaria na praia, depois do estresse da eleição. A família tem casa em Porto Belo. Será uma casa tapera por muito tempo.

Chamaram o ministro de “lixo, vagabundo e bandido” e o tiraram do lugar. E depois cercaram a casa.

Podem cercá-lo e chamá-lo do que quiserem? A maioria dos juristas de todas as correntes dirá que não. Que passaram dos limites. Mas fazer o quê? Por enquanto, ir embora do restaurante e esvaziar a casa.

E se o ministro voltar uma, duas, três ou 10 vezes ao mesmo lugar e for importunado? A ofensa será reincidente e irá caracterizar perseguição.

Mas a hermenêutica da era bolsonarista não dará conta da agressão. É liberdade de expressão chamar um ministro do Supremo de bandido? E de vagabundo? E de lixo?

Teremos tempos de debate sobre o que fazer. Mas não haverá nem como identificar os agressores. E se identificarem, vale a pena puni-los?

Os ataques estão se disseminamdo não só em restaurantes. Acontecem muito mais nas ruas, e as vítimas são cidadãos comuns sem direito ao esquema de segurança que protege Barroso.

É triste, porque tem peculiaridades, a situação de Santa Catarina, um Estado já identificado como um dos mais extremistas do país.

O Estado mais branco de todos teve o maior número de bloqueios nas estradas e tem núcleos e manifestações neonazistas em lugares públicos.

Algumas das principais lideranças da extrema direita bolsonarista são catarinenses.

Muitos dos oito tios milionários do zap denunciados por incitação ao golpe e sob investigação do Supremo são de Santa Catarina.

O fascismo marcou para sempre a imagem dos catarinenses. É terrível para um Estado que vive do turismo e pode virar o paraíso de golpistas e supremacistas.

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link