O fator Bolsonaro fugiu do controle? Por Fernando Brito

Atualizado em 28 de janeiro de 2018 às 13:55

Por Fernando Brito no blog Tijolaço.

Jair Bolsonaro. Foto: Agência Brasil

Onze entre dez análises políticas feitas com o viés do conservadorismo dizem que a candidatura Jair Bolsonaro tende a esvaziar-se na medida em que fique claro que Lula estaria fora da disputa eleitoral.

Como se acham todo-poderosos com o seu jogo de mídia, não conseguem compreender que o ódio que alimentaram, de olho na deposição de Dilma Rousseff e, depois, na eliminação política de Lula ganhou vida própria e que dificilmente obedecerá aos comandos do status quo da política e da economia.

Creem que, assim como desativaram personagens fictícios como Kim Kataguiri (MBL) e Rogério Chequer (Vem Pra Rua) – veja o que eles conseguem por na rua hoje, de coxinhas e constate  – podem fazer o mesmo com o tal “mito”, que só merecia este nome numa das acepções que lhe dá o Dicionároo Aurélio: “coisa só possível por hipótese; quimera”.

Infelizmente, não creio que as coisas se passem assim, por algumas razões.

A primeira é que Jair Bolsonaro, embora tivesse tudo para ser uma inexpressiva figura no meio militar – oficial de baixa patente e curta trajetória, passou a representar o pensamento mais conservador, corporativo e intervencionista dentro das Forças Armadas. Formou-se cadete em 1977, já fora do auge da ditadura e nunca se destacou em nada, a não ser na indisciplina, régua de ouro para medir o comportamento castrense, mas a defesa “sindical” dos militares e uma pauta moralista e extemporaneamente “anticomunista” o foram a outra das definições do Aurélio para mito: “personagem, fato ou particularidade que, não tendo sido real, simboliza não obstante uma generalidade que devemos admitir”.

A segunda é verificar que áreas eleitorais se abrem com a extirpação de Lula e quem pode crescer nelas. Recomendo, para quem tiver dúvidas, que olhe a votação de Marcelo Freixo – excelente na Zona Sul e Tijuca  – nas áreas de periferia e subúrbios do Rio de Janeiro, onde o eleitorado de Lula sempre foi grande.

A não ser se surgir Luciano Huck como paraquedista – especialização de Bolsonaro na tropa – os candidatos ora postos não parecem ter espaço por ali e o ex-capitão tomou o cuidado de bloquear a via evangélica de entrada neste eleitorado para Marina Silva.

O terceiro motivo é que o que eles apontam como razão para a expressão que Bolsonaro alcançou – o antilulismo – não só não se acaba com a ausência do ex-presidente na disputa formal, mas se acentua com a disputa informal a que se lançará, pessoalmente, tanto quanto lhe seja possível.

Contra Bolsonaro não adiantará levantar barreiras éticas ou as do “politicamente correto”. Ele é, justamente, a negação disto. É “mito”, o “macho”, o que “dá tiros”, o que aponta o caminho da paz a bala.

Um perfil que não podia ser “melhor” para um país que regrediu aos tempos do faroeste.