O fim das estátuas de escravocratas. Por Moisés Mendes

Atualizado em 10 de junho de 2020 às 11:01

Publicado no Blog do Moisés Mendes

Manifestantes jogam estátua do traficante de escravos Edward Colston no rio Avon, em Bristol, na Inglaterra – Giulia Spadafora/NurPhoto/AFP

Podem me convidar para laçar e colocar abaixo estátuas dedicadas a escravocratas e racistas.

Depois da pandemia, me convidem para pegar numa ponta do laço, puxar, deitar a estátua, pisar, testemunhar e assinar o que for preciso. Quero estar junto e, se for o caso, acusado como cúmplice da derrubada.

Já aproveito e digo que é completamente furada a tese de Laurentino Gomes, segundo a qual monumentos a escravocratas devem ser mantidos, em nome da preservação da História.

É furada porque qualquer monumento a uma figura humana é, na essência, uma homenagem pública a quem deve ser admirado em espaço de convívio coletivo.

Um monumento pretensamente eterno a alguém é um reconhecimento, nem sempre de todos, mas de uma maioria ou de consensos.

Imaginem um monumento erguido a Hitler ser preservado em nome da História. É um argumento sem qualquer fundamento.

Um monumento em bronze dedicado a alguém não pode, como parece que Laurentino sugere, ser comparado a um Coliseu, por exemplo, ou às ruínas de uma charqueada que explorou escravos. É uma bobagem.

Muito menos pode ser equiparado a um livro sobre um racista. Não há comparação. Derrubem tudo. Limpem as cidades.

Estátuas de criminosos devem estar em museus de cera, se é que ainda existem museus de cera.

Mario Quintana escreveu que um engano em bronze é um engano eterno. Os jovens europeus provaram que não são mais.