O golpe, a dignidade do trabalho e o emprego da informalidade. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 8 de janeiro de 2018 às 12:36

Todo emprego, sabemos, é digno.

Convém perguntar, porém, se é digno por parte do governo utilizar os empregos que estão sendo criados na informalidade, por pura falta de opção, como foguetório para a tal “retomada da economia”.

O levantamento efetuado pelo IBGE onde evidencia um aumento de praticamente 100% no número de pessoas que recorreram ao mercado informal de venda de marmitas nas ruas no terceiro trimestre de 2017 em relação ao mesmo período de 2016, deixa claro que a “geração” de empregos por parte da atual política econômica é, como tudo neste governo, uma falácia.

Utilizar-se do drama vivenciado por milhares de famílias brasileiras que na falta de qualquer horizonte de melhora se viram como pode, mais do que uma farsa estatística, é uma galhofa com milhões de cidadãos abandonados pelo Estado ao próprio destino.

A venda de marmitas por pessoas que não conseguem um emprego formal no mercado de trabalho é só a ponta do iceberg.

Ainda que o número de trabalhadores que ingressaram nesse segmento tenha aumentado assustadoramente para 501,3 mil pessoas (eram pouco menos de 100 mil em 2012) essa situação se alastra para todas as demais formas de comércio ambulante.

Ainda segundo o levantamento, desde 2012 não víamos tanta gente empregada no mercado informal. Pelos números do IBGE, são nada menos do que 1,8 milhões de trabalhadores.

Para efeito de comparação, em 2015, quando o país estava “quebrado” e Dilma Rousseff tinha “destruído a economia”, esse número era de 1,3 milhões.

Desde que a presidenta legitimamente eleita foi violentamente deposta do poder, a coisa só piora.

E ainda é preciso lembrar aqui que os números referem-se apenas ao terceiro trimestre de 2017. Com a “valiosa” contribuição da reforma trabalhista que entrou em vigor em novembro, o desastre no mercado de trabalho só tende a piorar.

Conforme os dados divulgados pela Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), no seu mês de estreia a alardeada reforma trabalhista que iria gerar milhões de empregos e modernizar as relações de trabalho entre patrões e empregados resultou simplesmente no fechamento de mais de 12 mil vagas.

É nesse ciclo pernicioso onde o fracasso da política econômica contribui para o trabalho informal em detrimento das vagas com carteira assinada que o governo quer convencer a todos que a reforma da previdência é imprescindível para o saneamento das contas públicas.

Incompetente com a sua própria auto gerência, ao mesmo tempo em que Temer diz estar saneando as contas públicas, busca destruir a chamada “regra de ouro” do gasto público ao passo que “pedala” impune e desavergonhadamente.

A autofagia a que esse país está sendo submetido levará, pela a aplicação dos velhos e ineptos “remédios amargos”, à morte do paciente que juram estar cuidando.

Nada está sendo mais maléfico para o país do que a incompetência do governo em alavancar a geração de novos empregos aliada à compra desenfreada de deputados mercenários para manter-se no poder e aprovar a sua pauta entreguista.

Se por um lado a política econômica de Temer joga os brasileiros para a informalidade, por outro a política de balcão praticada à exaustão neste governo retira o que nos restou de direitos civis, políticos, econômicos, trabalhistas e sociais.

Na tragédia social a que fomos submetidos, o fantasma do desemprego e do aprofundamento da desigualdade social rondam nossos lares como nunca.

A dignidade do emprego formal foi categoricamente substituída pelo emprego de uma vida precária na informalidade.

É cruel que estejam comemorando isso.